sexta-feira, 19 de abril de 2013

Parabéns para mim


Quem ainda é ou já foi tímido vai entender do que eu estou falando. Na infância e na adolescência, eu rezava para que meu aniversário caísse em um sábado ou domingo (não podia sonhar com a remota coincidência de cair em um feriado, por não haver feriados em julho). Isso porque, nos demais dias da semana, havia aula e toda a turma voltaria os olhos a mim para entoar em uníssono o “parabéns a você”, no caso, a mim, que ao longo desses intermináveis 40 ou 50 segundos de duração da cantoria não sabia o que fazer com a cara de bobo que se agarrava em meu rosto, com o vermelhidão que me acamaronava a pele do pescoço à raiz dos cabelos (passando pelas orelhas) e com as mãos que parecem triplicar de número nessas horas e disputam espaço nos bolsos da calça ou nos pontos do cinto nos quais os polegares podem ser desconfortavelmente enganchados. Era uma tortura sem fim.
Mais tarde, a gente cresce, mas, no caso dos tímidos, a timidez parece crescer junto e poucas coisas mudam. Passamos a ter de apresentar trabalhos lá na frente, na universidade e, depois de formados, retornamos às salas de aula para dar palestras sobre a profissão ou, nesses dias de hoje em que a comunicação é tudo, somos convidados a falar em público nas mais variadas ocasiões, quando os olhares e as atenções se voltam todos para um único ponto de convergência: você, com suas mãos em excesso, suas faces ruborizadas, o suor frio escorrendo pela testa, os pés que tropicam em cadeiras e velhinhas sempre dispostas em lugares inesperados.
Segue sendo uma tortura. Porém, com o passar do tempo e o colecionar dos fios brancos, aprendi algumas técnicas para amenizar o problema e amaciar a cara de bobo. Nos aniversários nos quais os parabéns são remetidos a mim, passei a cantar junto, em alto e bom som, aliado à potência de meu incorrigível desafino. Sou uma tragédia cantando e isso ajuda a inibir o bis. Nas palestras e bate-papos em público, bato palmas junto ao final, como a agradecer de imediato os aplausos que gentilmente estão dirigindo a mim. Não ajuda a perder a timidez, mas a cara de besta consegue esboçar um sorriso e se esconder sob um tênue disfarce. Ajuda a seguir em frente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de abril de 2013)

Um comentário:

Rafaela disse...

:)

Gostei da coluna. Por que será?

Bjs