As coisas mudam, nada é eterno.
Uma das características fundamentais do universo, da natureza, de tudo, é
justamente a existência dos processos, do andar, do fluir, do transformar. Nada
é perene, nada é imutável. Até os continentes se movimentam, os oceanos viram
desertos, as montanhas se desgastam, sóis fenecem, estrelas nascem, cobras
trocam de pele, lagartas viram borboletas, o sertão vira mar e o mar vira
sertão. Ideias se modificam, certezas são abandonadas, hábitos evoluem,
crianças envelhecem, ruas trocam de nome, refrigerante da infância muda de
gosto, deuses morrem, inimigos fazem as pazes. Velhas opiniões formadas sobre
tudo dão lugar às metamorfoses ambulantes, que são o substrato vital da
História. A única coisa que não muda é o fato de que tudo muda.
Agora, por exemplo, até as
partidas de futebol televisionadas tradicionalmente às dez horas da noite no
Brasil podem mudar. Já era praxe, a gente sabe: chega a quarta-feira, já
deixamos uma cervejinha gelada preparada, desmarcamos compromissos adiáveis
(“não, não marque o evento na quarta-feira de noite, que é dia de jogo”) e
sabemos que o sofá da sala já está todo felizinho, o rabinho abanando, à nossa
espera, para torcer ou secar conosco. Mas isso pode mudar, uma vez que a
Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anda analisando junto às emissoras de
televisão do país a possibilidade de antecipar os jogos para as 21h30 ou, até
mesmo, criar no calendário oficial as partidas de domingos de manhã, tipo 11
horas. E por que não?
Nos países do hemisfério norte,
por exemplo, é praxe marcar o início dos eventos noturnos cedo da noite, tipo
seis, sete, no mais tardar, oito horas. Isso permite que as pessoas usufruam
dos compromissos noturnos (peça teatral, cinema, solenidade, coquetel) e depois
ainda tenham tempo de sobra para sair para jantar, ao invés de ter de correr
para casa dormir, como ocorre aqui no Brasil, em que os eventos marcados para
as oito começam às nove e se encerram perto da meia-noite, matando todo mundo
no cansaço. Cerimônia de entrega do Oscar nos Estados Unidos começa às seis da
tarde e se encerra às dez da noite, sem torturar ninguém. Mas as coisas mudam.
Ah, mudam.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de abril de 2015)
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