quarta-feira, 22 de abril de 2015

As metamorfoses

As coisas mudam, nada é eterno. Uma das características fundamentais do universo, da natureza, de tudo, é justamente a existência dos processos, do andar, do fluir, do transformar. Nada é perene, nada é imutável. Até os continentes se movimentam, os oceanos viram desertos, as montanhas se desgastam, sóis fenecem, estrelas nascem, cobras trocam de pele, lagartas viram borboletas, o sertão vira mar e o mar vira sertão. Ideias se modificam, certezas são abandonadas, hábitos evoluem, crianças envelhecem, ruas trocam de nome, refrigerante da infância muda de gosto, deuses morrem, inimigos fazem as pazes. Velhas opiniões formadas sobre tudo dão lugar às metamorfoses ambulantes, que são o substrato vital da História. A única coisa que não muda é o fato de que tudo muda.
Agora, por exemplo, até as partidas de futebol televisionadas tradicionalmente às dez horas da noite no Brasil podem mudar. Já era praxe, a gente sabe: chega a quarta-feira, já deixamos uma cervejinha gelada preparada, desmarcamos compromissos adiáveis (“não, não marque o evento na quarta-feira de noite, que é dia de jogo”) e sabemos que o sofá da sala já está todo felizinho, o rabinho abanando, à nossa espera, para torcer ou secar conosco. Mas isso pode mudar, uma vez que a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) anda analisando junto às emissoras de televisão do país a possibilidade de antecipar os jogos para as 21h30 ou, até mesmo, criar no calendário oficial as partidas de domingos de manhã, tipo 11 horas. E por que não?

Nos países do hemisfério norte, por exemplo, é praxe marcar o início dos eventos noturnos cedo da noite, tipo seis, sete, no mais tardar, oito horas. Isso permite que as pessoas usufruam dos compromissos noturnos (peça teatral, cinema, solenidade, coquetel) e depois ainda tenham tempo de sobra para sair para jantar, ao invés de ter de correr para casa dormir, como ocorre aqui no Brasil, em que os eventos marcados para as oito começam às nove e se encerram perto da meia-noite, matando todo mundo no cansaço. Cerimônia de entrega do Oscar nos Estados Unidos começa às seis da tarde e se encerra às dez da noite, sem torturar ninguém. Mas as coisas mudam. Ah, mudam.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de abril de 2015)

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