Estamos completando uma longa semana de uma inominável dor
iniciada no cruzar da noite de segunda para a terça passadas, quando uma
tragédia aérea que ganha contornos de crime ceifou as vidas de 71 pessoas nos
arredores de Medellín, na Colômbia. O Brasil e o mundo compartilham um luto
temperado com incredulidade, estupor, tristeza profunda e, em alguns momentos,
até mesmo revolta, quando se começa a perceber que o acidente poderia ter sido
evitado caso elementos como a ganância, a irresponsabilidade, a imprudência
temerária não tivessem entrado em cena. A dor entrou em campo e lotou os
espaços nas cerimônias fúnebres realizadas nos estádios do Atlético Nacional de
Medellín e da Chapecoense, em Chapecó. Em Medellín, o povo colombiano emocionou
o mundo com sua sensibilidade e capacidade de empatia humana, pegando
simbolicamente no colo todo um Brasil enlutado.
Mas, ao lado dos jogadores da Chapecoense, dos integrantes
da comissão técnica, dos jornalistas e dos membros da tripulação presentes ao
fatídico voo, houve outra vítima importante e significativa a bordo da aeronave
que se espatifou na montanha. Encontrou ali também um fim inesperado uma gama
de sonhos que até então vinham sendo construídos pelas vidas de cada um dos que
as perderam dessa maneira absurda. Morreram os sonhos de cada atleta, de cada
jornalista, de cada profissional que perdeu a vida no acidente. Morreram os
sonhos de seus familiares e amigos; morreram os sonhos das torcidas; dos cidadãos
chapecoenses; dos catarinenses e dos brasileiros. Morreram também os sonhos dos
amantes do futebol, essa imensurável família universal cujas mais belas
características foram personificadas pelos colombianos e brasileiros, que souberam
reverenciar a civilização humana protagonizando tão pungentes despedidas.
Sabe-se que as grandes tragédias servem de palco para o
aflorar do melhor de cada ser humano. É verdade. Mas também não se pode
esquecer (e talvez resida aí uma das importantes lições a se tirar disso tudo)
que existem os destruidores de sonhos, e é fundamental saber reconhecê-los para
podermos nos precaver contra eles. Os destruidores de sonhos estão à espreita e
habitam as esquinas da vida humana, sempre prontos a levar vantagem sem se
preocupar com as consequências de seus atos. Eles estão à solta na sociedade esgrimindo
suas imprudências e ilegalidades. Estão em todas as esferas da vida,
disfarçados, muitas vezes, de gente profissional, ética e decente. Não se pode
voar por aparelhos nas proximidades de destruidores de sonhos.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5 de dezembro de 2016)
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