segunda-feira, 19 de junho de 2017

Problema que salta à vista

A senhora viu essa, madama? Dizem que o pessoal não anda enxergando direito. E não é qualquer um que diz isso. São os cientistas. E quando os cientistas dizem, é melhor a gente ver de perto, não é mesmo? Ainda mais quando se trata de cientistas americanos. Aí, sim, deve-se abrir os olhos. Pois andei lendo nessas minhas naveganças que o mundo está sofrendo uma verdadeira “epidemia de miopia”. É, madama, as pessoas estão ficando míopes iguais a mim e à senhora. Nosso grupo das toupeiras está aumentando a olhos vistos, se é que a madama me permite o trocadilho infame.
Mas, sim, o alerta é de arregalar os olhos. Dizem lá os pesquisadores da Faculdade de Optometria da Universidade de Houston (EUA) que até 2020 (logo ali) um terço da população sofrerá de miopia e, até 2050 (mais adiante), a metade dos habitantes do planeta será míope. A coisa é séria, não podemos fazer vistas grossas. Eu, que sou míope como um jabuti desde criancinha, conheço bem a sensação de ver o mundo todo borrado, como em um filme fora de foco. Minha miopia se manifestou ainda antes de erradicar-se em mim o analfabetismo, quando tinha uns quatro anos de idade, creio, e não demorou para que um par de óculos passasse a integrar meu visual permanente. Na época, éramos ainda poucos os portadores do problema, ao menos, que eu pudesse ver, mas, admito, não conseguia ver muito longe.
Um dos fatores desencadeadores da crise de miopia, conforme os cientistas, é a genética, contra a qual ainda pouco se pode fazer. O outro parece derivar de nossos hábitos sedentários. Detectou-se que pessoas que passam mais tempo dentro de casa correm risco maior de ficarem míopes do que aquelas que optam por uma vida mais ligada ao ar livre. No meu caso, tem lógica, sou o exemplo perfeito. Ficar dentro de casa tende a nos fazer forçarmos mais as vistas na leitura, na navegação em computadores, defronte à televisão e assim por diante. Já ao ar livre, a luz solar natural e intensa parece ajudar a visão a ver melhor e mais longe, conforme as pesquisas.

Quanto a isso, tudo muito bem, existem recursos como os oculistas, os óculos, as lentes, as cirurgias corretivas e a mudança de hábitos. Mas e aquela outra miopia, madama, a da alma, que faz as pessoas não enxergarem direito as mazelas do mundo ao seu redor, que faz as mesmas pessoas, quando as enxergam (as mazelas), virarem o rosto para o outro lado, agindo como quem não quer ver? Sobre essa algum cientista já pesquisou a incidência, as origens e as possibilidades de cura? Ou ainda seguirá embaçando o planeta até perder de vista?
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 19 de junho de 2017)

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