segunda-feira, 9 de abril de 2018

Um mito revigorado


O Tempo e a Memória são elementos invisíveis que operam em conjunto nas sombras da existência para conferir (ou não) permanência aos nomes de quem viveu. Há aqueles que se assentam em lugares perenes na História devido aos seus feitos transformadores ou destruidores; esses são os vultos ilustres que perpassam gerações e ultrapassam fronteiras. Há aqueles cuja amplitude de referência se restringe a círculos mais íntimos ou restritos, em especial nos âmbitos familiares ou de comunidades específicas, postos que podem ser ocupados pelas pessoas ditas comuns. E há aqueles cujos nomes simplesmente se esvanecem em meio à penumbra do Tempo, restando fios de sua memória latentes somente enquanto viverem aqueles que fizeram parte de seus círculos de relações. Depois, tudo volta ao nada, e é assim com a maioria de todas as gentes que existem, que já existiram e que ainda virão a existir. Nosso destino geral é o des-existir absoluto.
O que fazer para driblar as armadilhas do esquecimento e alcançar a permanecência mesmo após nosso desaparecimento físico? Esse é um mistério cuja fórmula o Tempo e a Memória jamais revelam, mantendo acesa a chama da surpresa, do imponderável e do inexplicável. Reflexões como essas me assaltam quando, por exemplo, observo o calendário e verifico que a quinta-feira desta semana, dia 12 de abril, é uma data que se reveste de significância especial para quem trafega pelo universo da literatura e da cultura serrana e gaúcha, pois que estaremos celebrando os 125 anos de nascimento da poetisa Vivita Cartier, nascida a 12 de abril de 1893 em Porto Alegre e falecida em 21 de março de 1919 em Criúva, onde segue sepultada há 99 anos. Arrebatada da existência física por uma tuberculose que lhe fez penar os últimos sete anos de existência, Vivita acumulou somente 25 anos de vida, período em que não casou, não deixou filhos, mas dedicou-se à construção de uma persona poética que legou à posteridade uma dezena de poemas conhecidos e uma trajetória que configurou-se em mito. Como? Por quê? De que maneira seu nome de curta existência e sua obra de modesto volume driblaram as brumas do esquecimento e se fazem presentes, ativos e “audíveis” até os dias de hoje?
Qual o mistério que explica sua permanência e sua influência? Por onde passam os meandros da manutenção da sua memória? Questões como essas, e muitas outras, estarei debatendo com quem desejar comparecer esta noite a mais uma edição gratuita e aberta da Órbita Literária, a partir das 20h, ali na Livraria e Café do Arco da Velha (Rua Dr. Montaury, 1570). Todos convidados.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 9 de abril de 2018)

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