segunda-feira, 21 de março de 2011

Eu quero um novo imposto

Tenho uma ideia para um projeto de lei que, se aprovado, ajudará a erradicar boa parte dos males que assolam a nação. Antes de mais nada, preciso de um deputado que encampe minha proposta e formate o projeto. Vamos ver se alguém se habilita. Minha proposta visa a erradicar do solo pátrio a burrice, essa pervertedora de cérebros e atravancadora do progresso. De que forma? Instituindo um Imposto Sobre a Burrice, o ISB. Sua aplicação será simples e imediata, a cada instante em que algum cidadão praticar um ato de burrice.
As ideias geniais que perduram e transformam a vida humana têm em comum a característica de serem assim, simples e fáceis de entender e de aplicar, como o palito de fósforo, a corneta militar, o guarda-chuva, a batata frita e o colchão de molas. Meu Impostinho Sobre a Burrice também habita essa seara das ideias simples e geniais e, garanto, se aprovada, transformará rapidamente nossa sociedade, pois que as asneiras cotidianas passarão a doer nos bolsos dos estultos, e aí sim, aiaiai, é que eu quero ver.
Ocorreu-me a iluminação súbita quando li na imprensa a notícia de que o prefeito de uma de nossas cidades praianas gaúchas decidiu suspender as aulas da rede pública de ensino na semana passada, quando soube das apavorantes notícias dos estragos causados pelo terremoto no Japão e os tsunamis (as ondas gigantes) que sobrevieram nas costas de vários países. Uma rádio local divulgou a informação de que reflexos do tsunami poderiam chegar ao litoral de países da América do Sul (o que é correto), e o prefeito resolveu agir com extremada prudência, mandando as criancinhas ficarem em casa. O detalhe é que o Japão localiza-se no Oceano Pacífico, e a região sul-americana na mira do alerta era a costa banhada pelas águas deste mar, como Chile, Peru e outros, e não a nossa Punta Del Leste Guasca, banhada, desde que eu me lembre, pelas águas do Atlântico, que nada teve a ver com esse pastel de siri.
Alguém aí faltou à aula de geografia: o prefeito ou o radialista. Talvez ambos tenham sido coleguinhas e gazearam aula no dia em que a profe desenrolava frente ao quadro-negro um mapa-múndi. Só espero que as aulas perdidas na semana passada na tal praia não tenham sido novamente sobre a localização dos continentes. Mas afinal, prudência em excesso não faz mal, haverá quem me critique pela minha intolerância. Mas é que somos recorrentes nesse tipo de pantomima, e deixamos de empreender esforços na solução de problemas reais e palpáveis. Eu me lembro que o Brasil, quando da primeira Guerra do Golfo, lá no início dos anos 90, sob a presidência de Fernando Collor de Mello, foi o único país do mundo a adotar racionamento de combustível durante o conflito (nem os diretamente envolvidos no confronto o fizeram). Que patuscada.
Alguém aí se habilita a apresentar meu projeto?
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 18 de março de 2011)

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