Vários são os indícios diários que me chegam incumbidos da missão de me conscientizar de que eu sou mesmo um cidadão do século passado. Nos meus tempos de criança e adolescência, lá nos anos 60 e 70, Papai Noel era uma criatura que tirava a barba de molho só às vésperas do Natal.
Saíamos a passear em família a pé pelas calçadas das ruas centrais, à noite, para maravilhar os olhos com as decorações natalinas das vitrines das lojas e tomar sorvete. O espírito natalino ia invadindo lentamente nossos corações, de mansinho, gerando uma expectativa pulsante que atingia um ápice dois ou três dias antes de 25 de dezembro, quando ainda utilizava-se (ecologicamente incorretos) pinheirinhos de verdade na sala a fim de serem enfeitados para abrigar os presentes que seguramente apareceriam, independentemente das eventuais traquinagens que havíamos prometido nunca mais repetir.
Isso, naqueles tempos de antanho. Hoje, confesso que fico um pouco chocado quando trafego pelas ruas da cidade e detecto residências ornamentadas com luzinhas piscantes e papais noéis dependurados nas sacadas desde o dia primeiro de novembro, mais de 50 dias antes da celebração natalina. Não consigo evitar o fato de ser assolado pela sensação de que uma incômoda dose de exagero parece reger essa necessidade competitiva de ser o primeiro da rua a ostentar a entrada no espírito natalino.
Tudo bem que o comércio inicie suas campanhas de vendas focadas na data com antecedência, afinal, os dias andam mesmo competitivos e é preciso fisgar a clientela o mais cedo possível, sob pena de perdê-la para a concorrência. Mas é preciso mergulharmos também nós, cidadãos comuns, nesse espírito competitivo? O espírito não era para ser o natalino? Fica sempre me parecendo que tudo aquilo que extrapola os limites do bom senso e da normalidade acaba correndo o risco de promover um esvaziamento dos significados que deveriam estar contidos nos símbolos com os quais lidamos.
Natal, para mim, que sou do século passado, ainda é em 25 de dezembro, e significa bem mais do que ter a porta da casa ornamentada por 60 dias. Se bem que, ano que vem, cravarei um Papai Noel na sacada ainda em 8 de julho. Duvidam?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de dezembro de 2011)
6 comentários:
Haha! Boa!
Mas eu DU-VI-DO!
:-D
J.Cataclism
Sinceramente, Cataclism... eu du-vi-do tambem!! Hahahahahaha
Duvido!!!
Mas a data é bem natalina, né?
Beijos,
Rafaela
A data, na verdade, é marcolina, Rafaela.. hehehehe...
Aaaaahhhhhh... então, EXISTE comemoração em oitodejulho? Huhum... bom saber. Já enxerguei nosso nobre colunista Kirst em determinado ponto da 18 Do Forte, que está cheio de Papaisnoeis pendurados, e ano que vem pedirei aos amigos proprietários do café/livraria para prestarem uma homenagem, pendurando alguns deles naquela data heheheh.
Agradeço a dica, Rafaela "Le Vin".
:-)
J.Cataclism
(Nota: não, não se preocupem que não sou nenhum maníaco, sequestrador, investigador particular ou coisa do tipo! Muito menos uma das velhinhas de outro chá com bolachas que vive a reclamar das frases compridas sem pausa nem vírgula Haha!)
SIm, Cataclism... não fosse o 8 de julho, não haveria colunista, nem crônica, nem blog nem nada. :)
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