A importância das pequenas coisas. O poder transformador (ou destruidor) dos mais ínfimos detalhes. Não é isso o que estamos sempre dizendo uns aos outros, e não é a respeito disso que nos alertam os próceres da autoajuda e das regras do bem-viver? O detalhe... aquele mísero nada que, a bem da verdade, pode representar o tudo e mais um pouco dele todo.
O cedilha, por exemplo. Aquele discreto e quase imperceptível tracinho que enfiamos sorrateiramente embaixo da letra “c” a fim de não só indicarmos a correta pronúncia do fonema, mas para, também e principalmente, com isso, alterarmos substancialmente o significado de uma palavra e, ipso facto, todo o conceito de uma ideia e/ou de uma frase. Sou um idólatra do cedilha devido a esse poder que ele sustenta latente, mesmo mantendo toda a fleuma e discrição (olha o cedilha aí, pela primeira vez nesse texto) que sua aparentemente insignificância visual esconde. Experimente prescindir do cedilha em uma palavra que exija o cê-cedilha e veja o que acontece.
Quer um exemplo?
Ei-lo:
Experimente botar-se a lavar a louça e esquecer do cedilha ao twittar para todos os seus seguidores a atividade à qual você está dedicado naquele momento. Não haverá 140 caracteres capazes de banir da mente mal-intencionada da galera a certeza de que você, desprovido de cedilha, estava passando por maus bocados em um antigo hospício alienista machadiano metido a dar banho em uma das internas. Lave, portanto, sua louça, sempre com cedilhas, para evitar compreensões errôneas.
Cuide, também, de preencher o vazio de sua existência com a resolução de caça-palavras devidamente adornados com o crucial cedilha, caso contrário, seu nome ficará conhecido na praca... quer dizer... na praça como aquela figura pouco asseada que se dedica a um estranho passatempo intitulado caca-palavra, seguramente composto pela busca frenética por termos de baixo calão.
Tenha, portanto, ciência da força dos pequenos detalhes. Se cometeres a imprudência de esquecer do cedilha na frase anterior, releia-a e veja só no que pode dar... (Aliás, releia o título desta crônica sem o dito-cujo...)
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de março de 2012)
2 comentários:
Heheheheh muito bom!
Neça eu quaçe nunca pençei; Até mesmo outras variações gramatiçalmente inçorretas podem oçorrer; tão menos poétiças.
Aliáç, intereçante é Marços F. Kirst lancar umas deças em pleno mês de marco.
Çupimpa!
Çupimpa é ter uma çolecão de leitores iguais a voçê, tão qualifiçados e efiçientes na çonstatacão do que quero çempre dizer. Não é qualquer um que sabe ler çomo J. Çataçlism ou esçrever çomo Marços Kirst.....
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