Coelhos e ovinhos de chocolate de vários tamanhos também disputavam nossa gula entre as doçuras e, para não me perder na organização da comilança, eu fazia um inventário das guloseimas recebidas, anotando as baixas a cada doce devorado. No imenso pátio repleto de árvores, flores e arbustos na casa de minha avó paterna, a Oma (“avó”, em alemão), o Coelhinho escondia ninhos para cada um dos netos e a primaiada toda era convocada, nas manhãs de domingo que antecediam o churrasco de Páscoa em família, a procurar os regalos por ali escondidos. Era uma festa.
Esta Páscoa de 2012 se configura como a primeira de minha vida que passarei sem a existência de nenhuma de minhas avós (a materna faleceu em 2004 e a paterna, a Oma, há pouco mais de um mês). Minhas Páscoas não perderam o encanto pelo simples fato de o Coelhinho ter me tirado da lista de recebedores de ninhos - uma vez que não sou mais criança há décadas - e nem devido à triste mas natural passagem de meus ancestrais. Pelo contrário, o legado de humanidade e de valores que avós assim nos deixam, demonstrando por meio de atitudes simples e marcantes, como produzir ovos e esconder ninhos de Páscoa para os netos, é o maior presente que se pode receber da vida, imortalizado na manutenção da lembrança de quem ajudou a formar nossas personalidades. Páscoa, minhas avós sempre ensinavam, é muito mais do que presente de Coelhinho. Descobrir e valorizar o significado real da data vai bem além de desvendar esconderijos de ninhos de guloseimas, né, Vó e Oma?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 6 de abril de 2012)
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