Brincar é fundamental para que as crianças treinem situações que vão pautar suas vidas adultas. Conforme os pedagogos, os jogos infantis preparam o caráter e instrumentalizam os pequenos a atuarem mais tarde como adultos aptos a enfrentar as dificuldades que vão aparecendo feito pedras no meio dos caminhos de suas existências. Assim, correr loucamente junto com os amiguinhos em torno da mesa dos doces da festa de aniversário da Aninha, que deveria ser mantida intacta até o momento de cantar os parabéns, é uma atividade que engendra de alguma forma a capacidade de futuros CEOs de multinacionais a tomarem as mais abrangentes decisões estratégicas um par de décadas mais tarde.
Muito cuidado, portanto, ao reprimir seus filhos (sobrinhos, afilhados, alunos) quando eles escalam os galhos mais finos do pinheirinho da esquina e balançam perigosamente lá em cima. Você pode estar represando o perfil arrojado de um futuro Eike Batista. Nunca se sabe até onde pode ir a importância de uma brincadeira de cabra-cega (ainda se brinca de cabra-cega?).
Eu, por exemplo... Quando é que iria imaginar que a habilidade que desenvolvi até os dez anos de idade, de conquistar pequenos prêmios nas “pescarias” de peixinhos de madeira enterrados na areia, em parques de diversões e festas comunitárias, iria me ser útil aos 44 anos de idade? Pois estávamos em família tomando chimarrão na sacada do apartamento de meu avô em Ijuí quando o chinelo do pé esquerdo de minha esposa, entontecido de tanto ser chacoalhado pelas pernas que ela cruzava enquanto impacientemente aguardava sua vez na roda do mate, despregou uma pirueta no ar e foi estatelar-se na laje do primeiro andar lá embaixo, aos olhos estupefatos de todos e longe do alcance dos braços de qualquer um. Destemido e criativo, não tive dúvidas: peguei um barbante, amarrei na ponta um gancho e pesquei o chinelo, para o aplauso dos familiares e os olhares renovadamente encantados de minha esposa.
Ponto para mim, para minha infância de pescador de quermesse e para todos aqueles que não reprimiram essa habilidade nata na criança que fui. Tudo é aprendizado, viu, Pedri... desça já daí, menino!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5/11/2010)
Muito cuidado, portanto, ao reprimir seus filhos (sobrinhos, afilhados, alunos) quando eles escalam os galhos mais finos do pinheirinho da esquina e balançam perigosamente lá em cima. Você pode estar represando o perfil arrojado de um futuro Eike Batista. Nunca se sabe até onde pode ir a importância de uma brincadeira de cabra-cega (ainda se brinca de cabra-cega?).
Eu, por exemplo... Quando é que iria imaginar que a habilidade que desenvolvi até os dez anos de idade, de conquistar pequenos prêmios nas “pescarias” de peixinhos de madeira enterrados na areia, em parques de diversões e festas comunitárias, iria me ser útil aos 44 anos de idade? Pois estávamos em família tomando chimarrão na sacada do apartamento de meu avô em Ijuí quando o chinelo do pé esquerdo de minha esposa, entontecido de tanto ser chacoalhado pelas pernas que ela cruzava enquanto impacientemente aguardava sua vez na roda do mate, despregou uma pirueta no ar e foi estatelar-se na laje do primeiro andar lá embaixo, aos olhos estupefatos de todos e longe do alcance dos braços de qualquer um. Destemido e criativo, não tive dúvidas: peguei um barbante, amarrei na ponta um gancho e pesquei o chinelo, para o aplauso dos familiares e os olhares renovadamente encantados de minha esposa.
Ponto para mim, para minha infância de pescador de quermesse e para todos aqueles que não reprimiram essa habilidade nata na criança que fui. Tudo é aprendizado, viu, Pedri... desça já daí, menino!
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 5/11/2010)
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