Dia desses abordei aqui a importância de um mero sinalzinho gráfico-gramatical como a cedilha, que, se esquecido ou aplicado incorretamente em uma palavra, tem o poder de alterar o significado de uma sentença. Debruço-me agora sobre o cuidado que se deve ter, nas situações do dia-a-dia, com o emprego correto das preposições. Sim, porque uma preposição mal utilizada, ou mal compreendida, é capaz de gerar mal-entendidos que precipitem você rumo à íngreme ladeira do constrangimento.
Prova é o que me aconteceu semana passada, ao receber o telefonema de uma senhora leitora residente em Uvanova, aquela simpática cidadezinha de colonização italiana encravada no coração da Serra gaúcha, vizinha à Tapariu imortalizada nas saudosas crônicas de Jimmy Rodrigues. Tergiversava ela a respeito do valor discutível de meus textos quando foi interrompida por um súbito acontecimento que lhe desviou a atenção. “Preciso desligar, Marcos, pois acaba de cair na rua uma caixa de frangos da caçamba de um caminhão e a vizinhança está em polvorosa, ajudando o caminhoneiro”, disse-me ela, ao desligar e me deixar com o fone na mão fazendo tu-tu-tu enquanto eu-eu-eu escancarava as porteiras da imaginação, visualizando uvanovenses de todas as idades correndo pela rua a perseguir frangos fugitivos que cacarejavam por entre as hortas alheias o sabor da repentina liberdade conquistada graças ao solavanco causado por um buraco na rua.
Dias depois minha leitora retornou a ligação para dar sequência à sua tese referente aos meus escritos, mas o que mais me interessava era o desfecho da saborosa (para o caminhoneiro e as aves, penosa) aventura ocorrida nas ruas de Uvanova, quando do extravio da caixa de frangos. Para minha decepção, soube então que o que havia de fato ocorrido fora a queda de uma caixa vazia de transporte de frangos, e não uma caixa repleta de frangos vivos, como eu tão perfeita e literariamente imaginara. Uma caixa COM frangos até pode significar o mesmo que uma caixa DE frangos, mas uma caixa DE frangos nem sempre quer dizer uma caixa COM frangos, conforme aprendi na marra.
Fiquei triste, pois desejava escrever uma crônica a respeito do ocorrido em Uvanova...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de abril de 2012)
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