sexta-feira, 20 de julho de 2012

Questão de crédito


Refletindo sobre o assunto em um de meus filosóficos banhos embaixo do chuveiro, nesses gélidos dias em que o lugar mais aconchegante é justamente sob os pingos que descem quentinhos enquanto o box do banheiro se transforma em réplica de uma esquina londrina sob denso fog e o contador de luz lá fora gira feito carrossel desgovernado, cheguei a uma conclusão. Pelo menos, não gastei água e luz à toa. Percebi que o elemento que prioritariamente deve pautar as relações comerciais entre as pessoas é a credibilidade, em todos os seus desdobramentos possíveis dentro desse setor.
Por parte do cliente, é preciso haver credibilidade no que tange ao cumprimento fundamental de sua parte, que é honrar o compromisso financeiro que ele assume ao adquirir um produto ou um serviço. Da parte do fornecedor de produtos ou serviços, o espectro das obrigações que lhe cabem, pelas quais precisa prover credibilidade, é bem mais amplo, passando pela qualidade daquilo que oferece, pelo cumprimento de tudo o que prometeu na hora da venda, pelo atendimento cortês e por aí afora. Não se admite vender gato por lebre.
Se o estabelecimento afirma ser uma galeteria, os garçons devem lotar o seu prato com unidades fumegantes e cheirosas de galetos prontos para o consumo. Se vem polenta junto, é outra história, mas, convenhamos, é preciso haver galeto. Se sobre a porta de entrada do estabelecimento está escrito “Livraria”, espera-se encontrar lá dentro obras literárias prontas para serem adquiridas e lidas, e não apenas lápis, borracha, apontador e mochila com rodinhas. Se a placa diz “Tudo por R$ 1,99”, devo entrar e supor que aquele cobiçado Playstation ali na prateleira custa isso e pode ir baixando dez que vou presentear até a Tia Carolina, que sequer sabe manusear um joystick.
Se a moça no pavilhão me chama dizendo que a revista é brinde, pego o exemplar e saio andando. Não adianta vir atrás querendo condicionar o “brinde” à assinatura de um dos títulos da editora. E gosto de pagar no caixa exatamente o valor que a mercadoria apresentava na prateleira. Ah... e de receber o troco bem certinho, para depois possuir todos os centavos que me permitem cruzar o pedágio, né.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 20 de julho de 2012)

2 comentários:

Palavras Vagabundas disse...

Marcos cheguei aqui por acaso e gostei.
Seu post sobre leitores me chamou atenção, porque tem menos gente lendo e mais disputa de mercado.
Essa semana recebi um catalogo de uma editora que e propõe a publicar mais livros brasileiros, do catalogo somente um livro chamou minha atenção, a maioria são cópias mal feitas do que tem lá fora, vampiro no Rio de Janeiro e lobisomens em São Paulo. É preciso garimpar muito para quem já não tem o hábito de ler, já viu?
Esse comentário é quase um post, rs
abs
Jussara

marcos fernando kirst disse...

Oi Jussara. Agradecimentos ao acaso, que te trouxe até meu blog. Espero que o vasculhe e sigas apreciando. Grato pelo comentário. Siga lendo.
Abs
Marcos K