sexta-feira, 13 de julho de 2012

(Re)Aprender a ler


Nesses nossos tempos de internet, em que se julga possível transmitir uma ideia, uma filosofia, um conceito, um argumento, um ponto de vista, dentro de um limite de apenas 140 caracteres (essa frase inicial, portanto, já estaria fora), me parece ser necessário rever alguns fundamentos que até bem pouco tempo atrás ainda regiam os atos da leitura e compreensão de textos um pouquinho mais longos. E quando escrevo “um pouquinho mais longos” não estou pedantemente a invocar mágicas montanhas de Thomas Mann nem demandas proustianas atrás do tempo que se perdeu, e sim, tão-somente, pequenas croniquinhas como as que exercito neste espaço e que, via de regra, exigem do leitor não mais do que cinco minutos de sua atenção.
O primeiro problema, me parece, reside justamente aí: na falta de atenção. O leitor de hoje lê desatenta e distraidamente. Acostumou-se à linguagem pobre, direta, descomprometida, superficial e aviltante usada em chats, twitters, msns, torpedos, feicibúkis etc e, quando se depara com um texto tradicional, que lhe exige um mínimo de esforço de concentração para dele sorver a essência, bate a preguiça mental e já se perde no meio da maionese. E quando escrevo “leitor de hoje” não estou me referindo somente aos jovens que já nascem conectados, mas, sim, à grande gama de leitores de todas as idades que, por necessidade de conexão com o mundo informático moderno, também se inserem no grupo e acabam sofrendo do mesmo problema.
Para compreender um texto de 141 caracteres ou mais, é preciso um mínimo de atenção, de esforço, de entrega, de sensibilidade, de inteligência, de silêncio e até de um pouco de humor, para extrair dele a sua verdadeira essência, o seu sentido, bem como detectar o que se esconde por suas entrelinhas. Sem isso, sinto muito. Nem sempre a comunicação se estabelecerá. O autor, ao escrever, faz a sua parte. Mas para o interlocutor realmente se habilitar a ostentar o título de leitor, ele terá de fazer a sua. E a parte do leitor vai mais além e mais ao fundo do que simplesmente passar pelo texto os olhos e afirmar que o leu. É preciso envolver nesse processo também a alma. E a minha, por sinal, não cabe em 140 caracteres.
 (Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de julho de 2012)

2 comentários:

Página Virada disse...

Marcos,

Grande texto!
Penso que, para a maioria das pessoas que tem Twitter e similares, 140 caracteres são até demais pela pequenez de suas ideias.

Grande abraço
Guilherme

marcos fernando kirst disse...

Grande Guilherme!
Tens toda a razao... para almas desérticas, nem um milhao mde caracteres bastam para que possam expressar alguma coisa...
Grande abraço!