Dia desses, fui traído pela
soberba da segurança absoluta que acomete os profissionais quando eles acham
que já são macacos velhos e estão imunes aos procedimentos padrão que existem
em todas as atividades justamente para evitar as surpresas desagradáveis que
advêm da inobservância dessas práticas. Sou macaco velho no jornalismo e na
escrita, mas minhas horas de voo sobre teclados de máquinas de escrever (na
antiguidade) e de computadores e notebooks (na modernidade) não imunizam contra
as catástrofes que a soberba pode acarretar, caso o macaco confie mais em suas
barbas brancas do que na rigidez do galho em que se empoleira.
Pois, dia desses, quebrou-se o
galho e fui-me direto ao chão com todo o peso de minha longeva macaquice, incidente
que me proporcionou uma experiência que eu julgava jamais ter de reviver após
os primeiros erros cometidos na atividade. A coisa se deu em uma manhã de
quarta-feira, dia da semana em que me dedico a escrever (se ainda não o fiz) ou
a revisar (se já o fiz) a crônica de minha autoria que há mais de três anos o
Pioneiro publica neste espaço às sextas-feiras. Acometido por súbita
inspiração, pus a cachola em sintonia com os dedos e fui derrubando sobre as
teclas do notebook o texto que ia saindo limpinho, criativo, bacaninha, uma
ideia encadeando na outra, as figuras de linguagem brotando sem evocar
frases-feitas, a sinfonia literária tomando conta das letrinhas na produção de
uma crônica com “C” maiúsculo, mas, tergiverso.
Sucedeu que meti o ponto final,
satisfeito com o escrito, e fechei a tela para buscar inspiração para o título
da dita crônica, e foi aí que deu-se a burrada. Eu não havia salvado o texto em
momento algum enquanto me deixava possuir pelo surto criativo. Logo eu, que,
desde o advento do computador, tenho o hábito de salvar tudo a cada frase digitada,
justamente para evitar esse tipo de drama que já vi apavorar vários colegas nas
redações pelas quais passei. Logo eu.
Reescrevi a crônica, mas claro
que não ficou a mesma coisa. Prudência é um remédio cujas doses devem ser incrementadas,
especialmente na velhice da macacada. Aprendi na marra. Será?
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 22 de fevereiro de 2013)
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