terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Porongos e flores

Mais uma vez a boa vontade da natureza entrou em ação e ofereceu de bandeja, para quem ficou na Serra no final de semana, um domingo ensolarado, quente, limpo, convidativo, inspirador. Já de manhã cedinho ele chegou fazendo a todos o convite para desentocar e inventar programas que fizessem jus às benesses do tempo bom, essa conjunção meteorológica ideal que almejamos todos os dias de nossas vidas, apesar de eu fazer parte do grupo dos que também amam chuvas e trovoadas de vez em quando. “Vamos, vamos, saiam de casa, inventem programas, aproveitem-me em minha plenitude”, dizia o sol, cujos raios entravam pelas janelas, aqueciam nossos pés e aceleravam nossas almas.
Convite aceito, chamado atendido, a dúvida agora era: comer flores no Vale dos Vinhedos ou devorar porongos em Criúva? Sim, porque as opções eram muitas, especialmente pelo fato de a Região da Uva e do Vinho estar a mil com o início da vindima, efeméride anual que atrai turistas de todas as partes para a região. As flores? Ah, as flores agora integram os cardápios dos restaurantes chiques que se propõem a oferecer ao turista uma experiência gastronômica diferenciada e você pode saboreá-las como acompanhamento ou entrada, não sei direito, ainda não fiz a experiência. A família, aliás, optou por rumarmos a Criúva justamente por temer minhas reações à mesa no Vale dos Vinhedos no restaurante que serve flores, pois que já me viram olhando estranho para o arranjo floral que enfeitava uma mesa dia desses e acredito que não confiaram nas minhas promessas de bom comportamento.

Então, fomos a Criúva, vivenciar uma experiência gastronômica embasada na típica comida de fazenda servida na Casa Verde, preparada pelo casal Claudia e Átila, cujo tempero especial é a larga simpatia e o acolhimento humano. E foi ali que nos botamos a comer porongos. Como o atilado leitor e a sábia leitora sabem, porongo é o fruto de uma família de vegetais que proporciona a criação de cabaças e, na região dos Pampas, o fabrico das cuias de chimarrão. Só que, quando colhidos apenas dois dias após florescidos, podem ser apreciados como uma deliciosa salada, preparada em conserva: os poronguinhos. Fartamo-nos de poronguinhos em Criúva e eis que agora me tornei um comedor de cuias. Uma das delícias da vida é isso: estar sempre a postos para as surpresas e as novidades que ela engatilha. E ah, flores... Não desisti de vocês...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 26 de janeiro de 2016)

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