Não deve ser fácil ser o Neymar. Eu não queria ser ele e
não sou. Ainda bem. Obrigado, Universo, por eu não ser o Neymar. Particularmente,
admiro pouco o Neymar enquanto jogador de futebol e menos ainda enquanto
exemplo de figura pública. Mas tem uma ou duas coisas nele que eu admiro. A
conta bancária do Neymar, por exemplo, é uma delas. Talvez a única delas. Gostaria
muito de ter a conta bancária do Neymar sem ter de ser o Neymar, mas é preciso
ser o Neymar para ter a conta bancária do Neymar e isso, decididamente, eu
passo.
Não quero ser o Neymar porque fico aqui pensando, ao observar
as minhas pantufas repousadas sobre o pufe da sala: não deve ser fácil ser uma
celebridade. O problema de ser celebridade é que a imprensa transforma em
notícia todo ato que a pessoa célebre pratica, por mais banal e prosaica que essa
ação seja. Daí fica difícil segurar a onda. O Neymar, dia desses, por exemplo,
inventou de postar na internet um vídeo em que está sentado a um piano,
cantando. Bastou para que a notícia viralizasse e as pessoas se digladiassem
discutindo as qualidades canoras dele. Há quem diga que Neymar, enquanto
cantor, é um ótimo jogador. Há quem diga o contrário: Neymar, enquanto jogador,
é um ótimo cantor. E há quem diga que é sofrível em ambas as atividades. Eu não
digo nada porque não me dignei a abrir o vídeo. Se não assisto a partidas em
que ele joga, também não vou ficar ouvindo-o cantar, mesmo que eventualmente
esteja perdendo de escutar um novo Pavarotti. Azar o meu. Ou não.
O fato é que Neymar não está almejando se lançar em uma
temerária carreira artística. Nada disso. Ele apenas gravou um vídeo de brincadeira
em casa, com amigos. Como você faz ou faria. Como eu faria, fiz ou farei. Só
que você e eu não somos Neymar (de minha parte, um alívio, reitero) e as
brincadeiras que gravamos em vídeo pouco interessam às massas e à imprensa. Não
somos celebridades. Nossos divórcios não enlouquecem a mídia como no caso de
William Bonner e Fátima Bernardes, Brad Pitt e Angelina Jolie. Nossas
desafinadas ao piano em casa não geram manchetes (eu sequer tenho piano, no
máximo, um violão emudecido há anos a um canto da sala).
Como não somos Neymar e nem celebridades, vivemos em nosso
dia a dia o privilégio inerente às pessoas comuns: o de jamais esquecermos o
que significa viver sendo gente normal, sem que nossas banalidades invadam a
privacidade dos outros. Ops, verdade madama, bem lembrado... Estou esquecendo
das redes sociais... Retiro tudo o que escrevi...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de outubro de 2016)
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