A Ciência, assim como qualquer outra arte ou habilidade humana, pode
servir tanto ao Bem quanto ao Mal. Tudo depende do uso que se faz dela, por
parte de quem a manuseia, manipula, coordena. Ela, em si, não tem lado
definido, pois não passa de uma ferramenta desprovida de intenções, de
objetivos, de metas. Quem as tem são os homens, que fazem dela bom ou mau uso.
Em fazendo bom uso, entram para a História como heróis, recebendo aplausos e
condecorações. Em optando pelo mau uso, ingressam na História na condição de
vilões, merecedores de vaias e execrações. Vejamos, a seguir, dois exemplos, um
de cada, a título de ilustração desta já tradicional reflexão de segunda.
Comecemos pelo bom exemplo, de cientista que utilizou seus conhecimentos,
talento e esforços para auxiliar a humanidade a dar um passo além, rumo à
evolução. Era engenheiro de profissão, nasceu em 1912 e morreu em 1977, mas
deixou uma biografia extensa de contribuições importantes e transformadoras. Trabalhando
nos Estados Unidos no final da década de 1940 e nas décadas de 1950 e 1960,
forneceu uma contribuição fundamental ao desenvolvimento da tecnologia
aeroespacial que resultou na conquista da Lua pelo homem. Só foi possível
construir foguetes tripulados que levassem até a Lua e trouxessem de volta os
astronautas com segurança devido ao empenho e à inventividade desse grande
cientista e sua equipe de trabalho.
Por outro lado, um cientista também engenheiro de profissão utilizou,
décadas antes, todo o seu talento inventivo para a construção de armas malignas
que tinham a intenção de servir aos interesses de um dos maiores vilões da
História Universal, Adolf Hitler. Esse cientista foi crucial para a criação e
desenvolvimento das primeiras armas de destruição em massa e teleguiadas da
História. Para criar as condições que permitissem o desenvolvimento de seus
projetos, esse cientista coordenou campos de trabalho escravo secretos na
Alemanha, utilizando mão-de-obra advinda de prisioneiros de guerra, em
condições insalubres, desumanas e assassinas. Era comum a contagem diária de
mortos devido à exaustão física, aos maus tratos, à fome e às doenças nas áreas
de trabalho desse cientista do mal durante a Segunda Guerra Mundial. Ele nasceu
em 1912 e morreu em 1977.
Esses dois personagens eram a mesma pessoa: Wernher Von Braun, que, finda
a guerra, foi capturado e levado aos EUA para auxiliar na corrida espacial que
colocou o homem na Lua em 1969. Mocinho ou bandido? Vilão ou herói? Tudo isso,
nada disso, ou apenas um ser humano igual a você e eu?
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 27 de novembro de 2017)
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