Desconfie de quem anda aparentemente muito quietinho. Esse conselho é
antigo, nossas mães já levavam em conta quando as crianças sumiam do raio de
visão e não se escutava mais nada delas durante algum tempo. Quando isso
acontece, é bom ir verificar, que elas devem estar aprontando. Aprendemos isso
também com os Beatles, décadas atrás. Era maio de 1967, já havia nove meses que
a maior banda de rock do planeta não lançava nada de novo depois do álbum
“Revolver”, de agosto de 1966, e decidira acabar com as turnês ao vivo para se
recolher em longas férias. Férias altamente produtivas, como se veria depois. Quando
a imprensa questionava Paul McCartney sobre as razões da prolongada (e
aparente) inércia, ele apenas respondia “wait” (“aguardem”), com um sorriso
enigmático no canto da boca.
E foi assim que surgiu o explosivo, revolucionário e genial álbum “Sgt.
Pepper´s Lonely Hearts Club Band”, que chacoalharia o conceito de música pop,
provando que os Beatles não estavam quietinhos coisa nenhuma, mas, sim,
produzindo com afinco. Jornalistas também aprendem essa lição no que se refere
a alguns dos artistas que compõem o cenário cultural do entorno em que atuam, e
é por isso que o prolongado (e aparente) período de inércia de um escritor da
envergadura de José Clemente Pozenato, por exemplo, gera desconfianças. Estaria
o autor de “O Quatrilho” e tradutor dos poemas de Petrarca fazendo nada? Há!
Ledo Ivo engano! “Wait”, responde Pozenato, com seu também característico
meio-sorriso de canto de boca. O que vem por aí, preparem-se, é de arrepiar.
Depois de termos lido o livro, assistido à peça montada pelo Miseri Coloni e
visto o filme produzido pelo diretor Fábio Barreto, agora seremos brindados com
a trama de “O Quatrilho” encenada na forma de ópera. O trabalho está sendo
gestado há dois anos pela Bell´Anima Produções Artísticas em parceria com a
Fundação Antonio Meneghetti, do município gaúcho de Restinga Seca, e tem
estreia prevista para agosto de 2018 no Theatro São Pedro, em Porto Alegre. Ao
todo serão 16 apresentações em cinco estados brasileiros para, depois, sair em
circuito internacional. As duas sopranos que, no elenco da ópera, representam
as personagens Pierina e Teresa, integram a orquestra do famoso violinista
holandês André Rieu. Pozenato responde pela adaptação do texto original para o
formato ópera, que, segundo analisa, direciona a ênfase artística aos momentos
de emoção existentes na trama. E o escritor tem mais coelhos na cartola. Parece
quietinho, mas é melhor ir ver o que anda aprontando...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 18 de dezembro de 2017)
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