segunda-feira, 10 de setembro de 2018

Em tempos de tanque cheio


Quando o combustível da marcha é o ódio, o final da jornada será o abismo. Sempre. Se esse mesmo ódio receber como aditivos vindos direto da bomba a intolerância, a soberba, a insanidade e a brutalidade, embaçando a visão do trajeto, o final da jornada será necessariamente o abismo. Sempre. Não importa a causa, que até pode ser, em essência, justa. A causa, por mais justa e legítima e louvável que seja, sucumbirá ao abismo se for conduzida pelo ódio, pela raiva, pelo rancor, pela desinteligência, pelo belicismo, pelo segregacionismo, pelo socar a mesa, pelo desamor. Não há causa justa que se sustente quando os pilares são fundeados sobre as areias movediças do fel e da estupidez. Nesses casos, à frente, no final do caminho, nada mais haverá a esperar do que a voraz beira do precipício, no qual sucumbirão todos os acólitos que concordaram em marchar sob o incentivo da raiva. Sempre.
Foi assim na Segunda Guerra Mundial, por exemplo. O combustível da marcha do nazismo (causa que, aliás, em nada consegue sustentar um pingo de defensibilidade por quem respeita os preceitos básicos da civilização), capitaneada por Hitler e sua camarilha de psicopatas, era nada menos do que o ódio animalesco e insano, inspirado por eflúvios claramente infernais. Ameaçando as estruturas da vida em harmonia entre os povos, as gentes e suas peculiares e encantadoras diferenças, Hitler e seu bando de bestas-feras obrigou o mundo civilizado a se aliar na “defesa de tudo o que fazia com que a vida merecesse ser vivida”, conforme resumiu o então primeiro-ministro britânico Winston Churchill, que liderou os ingleses na longa e sangrenta batalha contra o terror hitlerista que procurava mergulhar o mundo nas mais sórdidas profundezas do horror. Sim, porque o nazismo e seu ódio intrínseco representavam a antítese dos elementos que fazem a vida valer a pena ser vivida. Não há lugar para o ódio em uma vida que se almeje plena, construtiva, colaborativa e significativa. Nem um milímetro sequer. Nunca.
É interessante também assinalar que, dentro de seu claustrofóbico bunker, enquanto Hitler babava e surtava de ódio contra seus oficiais a cada eventual revés no desenrolar da guerra que travava contra o mundo, Churchill, por outro lado, incentivava seus aliados com palavras plenas de lucidez: “Ao fitarmos com olhar firme as dificuldades à nossa frente, podemos retirar uma confiança renovada da lembrança das que já superamos”. O final da História todos sabem qual foi. Afinal, cada um escolhe o combustível com o qual deseja encher o tanque de sua jornada.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 10 de setembro de 2018)

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