segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Um chef que mete a colher


Essa onda de gastronomia gourmet, popularizada pela televisão, chegou ao cotidiano da singela e simpática Uvanova, aquela cidadezinha encravada no seio da Serra Gaúcha, vizinha a Tapariu e a Vila Faconda, revolucionando a forma de se relacionar com a comida entre as gentes dali. Jornalista em essência que este cronista de segunda jamais deixa de ser, sempre atento e alerta, detectei o surgimento em Uvanova de um chef ainda não descoberto pela grande mídia e que, em breve, alcançará renome nacional. Esta coluna antecipa uma exclusiva entrevista com o chef uvanovense Bambino Mêscolo, abordando com ele alguns conceitos da gastronomia contemporânea, em primeira mão aos leitores de segunda. Evoquei os conceitos da “nouvelle cuisine” e o chef soltou o verbo. Confira a seguir, sem censura:
O que é finger food, em sua opinião? “Nom gosto de expressões estrangeiras. Chamo de ‘dedom food’. É comida pra comer com as mão, para se lambuzar mesmo. Nos meus eventos, sirvo uma sequência composta por coxinhas fritas de galinha, rodelas de salame, cubos de queijo e até mesmo codeguim. Pode-se servir também fatias de polenta brustolada, mas tem de assoprar bastante antes quando for recém retirada da chapa quente, pra evitar queimar os finger dos convidados. Tem gente que confunde ‘finger food’ com o hábito de alguns garçons locais enfiarem os dedom drento da caçarola de sopa de anholine ao conduzi-la até a mesa dos clientes, mas nom é nada disso”.
Qual seu conceito de sobremesa gourmet? “Nada supera um bom tijolinho de mandolato, daqueles bem duro, de quebrar obturaçom e lotar sala de espera de consultório de dentista (um irmom meu é dentista, cobra pouco e aceita salame de adiantamento). Também tem o tradicional sagu que pode ser servido quente recém saído da panela ou em temperatura ambiente. Gelado nunca, porque as bolinhas brancas endurecem e engrumam, caem todas pro fundo da bacia e se separam do caldo. Só quem vem de fora consegue gostar de sagu gelado”.
Defina salada césar. “Isso é baboseira. O Césaro, filho do Beppe, nem sabe fazer salada. Nom existe salada do Césaro. Telefonei pra ele pra ver que salada ele gostava e ele disse que gosta de radicci cotti. Entom, salada do Césaro é radicci cotti com gema de ovo cozido drento. Ele também gosta de mix de folhas verdes com agriom e pissacán”.
O que é gastronomia fusion? “É a famosa gastronomia de fujom. É comida que faz gente de estômago fraco fugir correndo pela porta afora, tipo mocotó bem temperado ou bucho apimentado. Afinal, gastronomia gourmet tem de ser gastronomia de comer. Buon apetitto!”
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 3 de setembro de 2018)

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