segunda-feira, 12 de novembro de 2018

Oumuamua, o fake estelar


Bah, mas que pena! Eu já estava todo faceiro, abanando o rabinho frente à notícia bizarra e encantadora, e agora vem o lava-jato d´água estragar tudo. Já tinha até conseguido decorar o nome da coisa: “Oumuamua”. Passei uma tarde treinando, confesso, mas estava convicto de que valia a pena, afinal, tratava-se da mais importante revelação da História da humanidade: estávamos sendo visitados por um artefato estelar que passava a apenas (?) 30 milhões de quilômetros da Terra (sabe a distância entre o centro de Caxias e Vila Cristina?... pois é... mais do que isso, madama... bem mais...), e que, segundo uma dupla de renomados astrônomos norte-americanos, havia sido fabricado zigulhões de anos atrás, por inteligências extraterrestres habitantes do espaço-além! Oumuamua era a prova cabal e esperançosa de que existe, sim, vida inteligente fora da Terra! Ou, para sermos fieis à realidade dos fatos: de que existe vida inteligente no universo, e ela se encontra mesmo é fora da Terra. Oumuamua era a prova! Só que não!
Oumuamua, uma espécie de asteroide diferente dos outros asteroides, em forma de charuto alongado, viajando a uma velocidade surreal e apresentando um comportamento diverso do padrão adotado pelos asteroides que são apenas asteroides mesmo, o que colocou pulgas atrás das orelhas dos astrônomos, sempre tão céticos e desconfiados. Astrônomos são diferentes de astrólogos e de ufólogos. Astrônomos, a princípio, optam pelo “não”. Mas, dessa vez, com o Oumuamumnumuma... quer dizer... já esqueci... deixa soletrar que eu acerto... dessa vez, com o Ou-mu-a-mua... isso, com o Oumuamua, a coisa era diferente. Tudo estava diferente, e a astronomada começou a achar que finamente podia relaxar e dizer “sim”! Sim, sim, siiimmm, estamos sendo visitados por um objeto criado por inteligências extraterrernas e esse tareco é o tal do Oumuamununu..., enfim, aquela pedrona que passou raspando e fazendo vento a apenas 30 milhõezinhos de quilometrinhos de distância de nossa velha e boa Terra!
Só que não. Primeiro, a coisa passou meio que despercebida, tão envolvidos estávamos em nossas tradicionais questiúnculas terráqueas equilibradas entre fake news e verdadeiras-news-de-dar-enxaqueca. Segundo, que o Oumuninununino não era alienígena coisa nenhuma, era asteroide mesmo, não foi fabricado por homenzinhos verdes em Alfa Centauro. Não, madama. Os inteligentes do Universo continuamos sendo nós, mesmo, por enquanto. Até que um redentor lava-jato venha um dia nos colocar em nosso devido lugar universal. Até lá, paciência: segue sendo tudo conosco...
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 12 de novembro de 2018)

Nenhum comentário: