Desde a segunda-feira da semana
passada, nós, brasileiros, não podemos mais esquecer da existência do distrito
paulista de Pirituba, situado na Zona Oeste da capital daquele Estado. Ao longo
desta segundana crônica, esclareço o porquê. É naquela região que reside uma
senhora chamada Luciene Terto da Silva, de 53 anos, com seu marido, Humberto
Manoel dos Santos, de 57. A julgar pelas fotos e imagens veiculadas pelos
órgãos de imprensa de todo o país, percebe-se que são pessoas humildes, de
parcos recursos, trabalhadoras, honestas, fartas em convicções éticas na medida
inversa de seus recursos financeiros. Iguais, portanto, a uma parcela enorme de
brasileiros que encaram cotidianamente a difícil missão de conduzir suas vidas
em um país frequentemente hostil com sua própria população.
Mas o casal Luciene e Humberto
ganha a mídia e um lugar na história recente do país devido a um aspecto que os
define e sobre o qual talvez nem eles mesmos tenham consciência clara: eles são
pais de uma boa pessoa. Isso, em um país assolado pela falta de ética, pelo
egoísmo, pelo crime despudorado em todas as esferas, pelos desmandos, pela
impunidade e pela falência da vida em sociedade, é mais do que um alento, é um
patrimônio humano inestimável, passível de acolher os cuidados que se direciona
a uma espécie em extinção. Luciene e Humberto são os pais da vendedora paulista
Leiliane Rafael da Silva, de 28 anos, a “Mulher-Maravilha” que, na segunda-feira
passada, ao deparar com o trágico cenário da queda de um helicóptero em plena
Rodovia Anhanguera (que resultou nas mortes do jornalista Ricardo Boechat e do
piloto Ronaldo Quattrucci), saltou da moto em que trafegava com o marido e
encarapitou-se na cabine destruída do caminhão atingido pela aeronave, a fim de
salvar o motorista caxiense João Adroaldo Tomackeves. Seu ato de altruísmo
percorreu o país e o mundo. Leiliane não pensou em si e nas consequências que o
ato poderia acarretar à sua saúde, fragilizada por uma doença rara. Ela agiu
movida pela convicção enraizada em sua índole, de que é preciso fazer o bem. E
fez.
Em Pirituba, portanto, mora uma
pessoa de bem. Não há satisfação que se compare à dos pais de Leiliane,
embalados pela convicção de que colocaram no mundo uma boa pessoa. O Beatle
Paul McCartney, certa vez, em entrevista, declarou que ele e sua então esposa, Linda
Eastman (que morreu de câncer em 1998), tinham apenas um desejo para seus
filhos: o de que fossem boas pessoas. Basta isso, porque isso faz toda a
diferença. Paul sabe disso. Dona Luciene e seu Humberto também.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 18 de fevereiro de 2018)
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