“Postura, Marcos, postura!
Observa a postura!”, costumam exclamar meus instrutores de treino na academia,
onde passei a ser uma presença inesperadamente regular. “Tchau, até o próximo
treininho”, abanam eles, sorridentes, sempre que concluo mais uma sessão de
exercícios elaborados com a intenção de me resgatar das profundezas maléficas
da movediça e afundante areia do sedentarismo. “Treininho” para eles, claro, habituados
que estão a puxar aqueles ferros com a ponta do dedo mindinho e a carregar os
halteres de lado a lado com a mesma desenvoltura e naturalidade com que eu troco
de lugar os livros de minha biblioteca. Atento e disciplinado, vou suando e
aprendendo.
Aprendo, por exemplo, que de nada
adianta fazer três sequências de dez erguidas de peso se eu não fixar
corretamente os pés no chão, com as pernas bem separadas e o corpo ereto como quando
procuro melhor visualizar, por sobre as cabeças da multidão, o carro das
rainhas no Corso Alegórico na Rua Sinimbú. Para obter o resultado ideal do
treino, é preciso não só seguir a sequência e puxar os ferros, mas fazê-lo com
a postura correta. “Postura, Marcos, postura!”. Tudo é uma questão de postura,
e estão certos a Renata e o Eduardo, meus atentos e dedicados treinadores, em
constantemente me puxar as orelhas enquanto puxo eu os ferros. Má postura gera
más consequências e, além disso, revela, em sua origem, uma relação precária
com as coisas, de desleixo, de desatenção ou de desconhecimento. É preciso estarmos
sempre atentos à postura, porque ela também dá indícios sobre quem somos, o que
e como somos.
Até as galinhas no aviário dedicam-se
à postura, diria algum cronista mundano de segunda disposto a fazer gracinha.
Nós, aqui, que somos sérios, pensamos além e evocamos a importância da postura
também nas relações pessoais, no trabalho, na sociedade, em público, em casa,
em família, nas redes sociais virtuais e reais. Nossa postura, tanto a física quanto
a comportamental, expressa as nuances de nossa essência, nos define e
diferencia. Qual a sua postura, por exemplo, frente à morte súbita de uma
criança de sete anos de idade, descendente direta de um político controverso? Há
aqueles que, movidos pela empatia humana que aflora frente às tragédias, se
condoem e se solidarizam. E há os que desdenham e politizam a desgraça,
aprofundando a desumanização de uma sociedade doente. A postura fala e revela, desmascara
e escancara. “Postura, Marcos, postura!”, repetem a Renata e o Eduardo. Estão
certos. É preciso atentar à postura, tanto na academia de musculação quanto na
academia da vida.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 11 de março de 2019)
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