Bamiyan é uma cidade do
Afeganistão situada a 240 quilômetros da capital Cabul e reconhecida como uma
das regiões mais sagradas do mundo para os budistas. A Unesco elenca aquele vale
como Patrimônio Cultural Mundial por situar-se na antiga Rota da Seda, que no
passado interligava o comércio entre o Oriente e o Ocidente, e por abrigar
diversos mosteiros budistas milenares. Encravadas nas rochas arenosas da
região, os antigos monges esculpiram, entre os séculos IV e V d.C., as duas
maiores estátuas de Buda em pé no mundo, uma medindo 38 metros de altura e a
outra, 55 metros. As duas maravilhas arqueológicas eram consideradas Patrimônio
Cultural da Humanidade até o ano de 2001, quando foram destruídas por
integrantes do grupo radical islâmico Talibã, que as bombardeou ao longo de 25
dias. Um atentado deliberado, cruel, sádico, estúpido e irreversível contra a
Cultura, contra a Arte e contra o maior patrimônio humano, que é o fruto de seu
talento criativo.
A “Cidade Eterna” Roma, centro
pulsante de um império que dominou o Mundo Antigo por séculos, também sentiu na
carne o poder irrefreável da ânsia de destruição dos bens culturais e dos
agentes de cultura ao ser submetida meia dúzia de vezes aos ataques de
invasores bárbaros. Gauleses, visigodos, vândalos, hunos e ostrogodos
sucederam-se, ao longo dos séculos, nos atos de saquear e destruir Roma e seus
monumentos, suas estátuas, sua cultura em geral, até culminar na queda absoluta
do Império Romano. O pouco que restou (frente ao que existia) encanta turistas
do mundo inteiro até hoje. Os nazistas, ao tomarem o poder na Alemanha, já no
século XX, não fizeram por menos e também logo elencaram a Cultura e seus
artífices como inimigos a serem combatidos e destruídos. Disso resultaram atos
como a queima de livros em praça pública, a perseguição a artistas e
intelectuais e a ordem de Hitler de implodir os monumentos históricos de Paris quando
os Aliados se aproximavam para libertar a “Cidade Luz” (então ofuscada pelas
trevas do terror que a dominava), em 1944. Felizmente, não foi atendido por um
oficial minimamente lúcido (o general Dietrich Von Choltitz, então comandante
alemão da cidade), e a Torre Eiffel e o Arco do Triunfo seguem em pé,
irradiando História.
Sempre há quem resista às ondas
de ações anticivilizatórias, pois que os vândalos retornam em ciclos dispostos
a fazer terra arrasada da Cultura, das Artes, dos artistas e das tradições que
dão sentido, permanência e identidade à existência dos povos. É preciso zelar,
afinal, os talibãs estão sempre à espreita.
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 4 de março de 2019)
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