Abrimos esta crônica de segunda
com a poesia “Sonhos”, do escritor norte-americano Langston Hughes (1902
–1967): “Agarre-se aos sonhos/ Pois se os
sonhos morrerem/ A vida é um pássaro de asas quebradas/ Que não pode voar./
Agarre-se aos sonhos/ Pois quando os sonhos se vão/ A vida é um campo estéril/
Congelado com a neve”. Significativo por si só, o pequeno grande poema foi
evocado ano passado pela diretora-geral da Unesco, Audrey Azoulay, em sua
mensagem especial no Dia Mundial da Poesia, instituído pela entidade desde 1999
e que se celebra em 21 de março (próxima, quinta-feira). Ao chegar a data,
saberemos que excerto de que poeta a diretora escolherá este ano para direcionar
as atenções a essa arte que embala os sonhos e ressignifica a realidade das
gentes ao redor do mundo.
Bons poetas e poemas é o que não
falta no menu da nobre arte para a escolha da dirigente da Unesco. Claro que
ela será inspirada na missão pelas tramas de Calíope, a primeira das nove musas
gregas (ao lado de suas irmãs Érato, Clio, Euterpe, Melpômene, Polímnia, Tália,
Terpsícore e Urânia), a quem cabe reger a poesia épica e a eloquência.
Independentemente dos versos que vierem à luz este ano, o certo é que serão
evocados com a missão de lembrar o mundo de que a Poesia integra o rol das
necessidades vitais do ser humano em sua busca pelo sonho de uma vida plena. A
Unesco entende que a existência humana só atinge a plenitude quando, junto às urgências
básicas (alimento, abrigo, saúde, trabalho, educação, segurança etc), também se
busca saciar as premências do espírito, cuja fonte reside nas artes e na
cultura. Poesia, portanto, é vital, e feliz do povo que acolhe e abriga seus
poetas, os guardiões dos sonhos.
Caxias do Sul, por exemplo, porta
credenciais suficientes para suster o título de comunidade tocada pela poesia,
já que por aqui exerceram o ofício poetas (natos e adotados) de envergadura capaz
de embevecer até mesmo Calíope. Um desses nomes é o de Vivita Cartier, nascida
em Porto Alegre em 1893 e que adotou a Serra Gaúcha como cenário para travar
batalha contra a tuberculose em seus anos derradeiros. Um século atrás, em 21
de março de 1919 (antecedendo o Dia Mundial de Poesia em oito décadas), Vivita
morria, aos 25 anos, em Criúva, onde está sepultada. Porém, o mito de sua
persona sobrevive ao tempo. Sua curta e intensa trajetória de vida e a
qualidade de sua obra ganham luz neste sábado, com o lançamento de sua
biografia, assinada por mim, na Galeria Municipal de Arte, das 14h às 18h. A
entrada é franca e estão todos convidados para a concretização desse sonho
poético.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 11 de março de 2019)
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