A vida é feita de sonhos, de
metas, de objetivos a serem alcançados. Quanto mais alta a meta, maior a
satisfação em conquistá-la, maiores os esforços direcionados à tarefa, maior o
número de cumprimentos, sorrisos e tapinhas nas costas, advindos de seus pares,
sabendo que, ao fazê-lo, eles roem cordões infindáveis de uma inveja pulsante a
escorrer por entre o canto escancarado da boca sorridente sobre fileiras de
dentes trincados. Sim, é nessa bandeja que se moldam os sonhos mais
improváveis, que só não são concretizados quando o próprio sonhador neles deposita
fé de menos. Eu, desde a semana passada, cultivo um desses sonhos. E tenho fé
demais, madama, de que o verei realizado. Eu sonho ser convidado para um jantar
oferecido pelo Supremo Tribunal Federal!
Já pensou, madama, eu lá, sendo
servido como um rei, ou melhor, como um magnata saudita, um bilionário russo,
um investidor da Bolsa de Tóquio, a desfrutar de uma saborosa lagosta ao molho
amarelo cuja composição nem desconfio? Isso, claro, quando já à mesa, porque,
antes, brindarei junto a meus pares com um espumante brut portador de pelo
menos quatro premiações internacionais e, após, pedirei ao garçom uma dose
daquele conhaque envelhecido por pelo menos dois anos, conforme consta no menu
e na licitação oficial feita pelo órgão. Entabularei conversações com o sheik
marroquino a respeito das monções no leste do Vietnã nessa época do ano,
enquanto bebericamos doses delicadas de cachaça envelhecida em barris de
madeira nobre. E estaremos prontos, então, para atacarmos a lagosta, os carrés
de cordeiro, o camarão à baiana, o bacalhau à Gomes de Sá, os tournedos de filé
(a senhora sabe o que são tournedos, madama?), entre outras delícias previstas
na exclusiva licitação.
Nosso jantar será harmonizado à
base de vinhos envelhecidos em barris de carvalho franceses ou americanos, e não
menos que isso! Ao final, para a digestão, charutos? Será que haverá charutos?
Não sei se o edital para a compra dos itens dos jantares futuros do STF prevê
charutos. Tomara que haja charutos! Não fumo, é verdade, mas tenho certeza de
que um charuto após as lagostas e os tournedos cairá melhor do que a colher de
Olina que tomo em casa quando exagero de noite na sopa de anholine. Aliás,
madama, reserve já uma data na agenda para jantar comigo aqui em casa depois de
meu sonho concretizado, para sorver, em detalhes pomposos, a narrativa dessa
aventura eno-gasto-nômica (faltou um “r” ali no meio, mas deixemos assim). Vou
servir uma sidra de maçã e uma rabada à pururuca que lhe soarão faustosas!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 20 de maio de 2019)
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