sábado, 7 de agosto de 2010

Saudades dos Trapalhões?


Você faz aquele gênero saudosista, que tem saudades dos antigos programas de tevê da sua infância, adolescência e juventude? Eu, sim. Vamos ver se, nesse quesito, temos algumas saudades em comum. Por exemplo: você tem saudades dos Trapalhões, aquele quarteto humorístico que apostava no humor simples e direto, formado por Didi, Dedé, Muçum e Zacarias? Sim? Bom, eu, não. Quer dizer, explico-me:
Saudades do quarteto formado por Didi, Dedé, Muçum e Zacarias eu tenho, sim, e quem é que viveu aquela geração que não tem? Mas dos Trapalhões não tenho saudades não, porque continuo tendo a oportunidade (vejam bem, eu não disse “tendo o prazer”) de vê-los em ação nos domingos pela manhã, em dias de corrida de Fórmula-1. Lá estão eles, fazendo suas trapalhadas há anos. Palhaços fantasiados de esportistas que, depois de muito me irritar porque eu tolamente os levava a sério no início, agora me fazem rir, porque finalmente percebi os palhaços que na realidade eles são. Passaram de “ás no volante” para “asnos volantes”.
Sim, porque eu sou do tempo em que os pilotos brasileiros integrantes do chamado Circo da Fórmula-1 nos enchiam de orgulho não só pelos títulos que conquistavam nas pistas, mas pela postura de verdadeiros esportistas e de verdadeiros campeões que eram. As biografias de Emerson Fittipaldi, Nelson Piquet e Ayrton Senna estão aí para quem quiser ver e relembrar. Depois da morte de Senna, acabou a metáfora contida na palavra “circo” e as aspas caíram fora, com a chegada em cena dos modernos Trapalhões.
Além de se submeterem feito fantoches às maquiavélicas e anti-desportivas práticas dos dirigentes, simulando acidentes na pista (prova de mau-caratismo de todos os envolvidos, a começar pelo piloto), nossos pilotos protagonizam anualmente façanhas dignas de filmes dos Três Patetas, inclusive com um dos brasileiros arremessando peças de seu carro, em treino, contra a cabeça de outro brasileiro que vem atrás e que o deixa fora do ar por alguns meses. Depois, em plena recuperação nas pistas, esse mesmo brasileiro faz igual ao anterior e se rende aos desmandos de sua própria equipe, abrindo passagem para um companheiro que vem atrás e que deve conquistar os pontos da vitória. Muita palhaçada. Quem ainda leva a sério? Quem ainda se digna a torcer de verdade? Melhor usar essas duas horas dominicais dormindo, mesmo.
Minhas saudades, portanto, remontam aos tempos em que eu ligava a tevê domingos pela manhã para assistir a verdadeiras competições de automobilismo, regidas pela sadia e verdadeira competitividade entre pilotos e equipes, nas quais nomes brasileiros brilhavam pela competência e pela postura. Um tempo que, pelo visto, morreu junto com Senna na curva Tamburello.
“O, tempora, o, mores”! “Oh, tempos, oh, costumes”, escandalizavam-se os romanos sempre que detectavam os aspectos cotidianos que escancaravam a decadência de sua cultura e de sua civilização. Em termos de decadência ética, moral e de competência, estamos de fato acelerando na reta final...
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 06/08/2010)

Nenhum comentário: