sábado, 17 de setembro de 2011

De geração em geração

Adultos são malas. Todo adulto ou esqueceu que já foi criança e adolescente ou idealiza a sua própria infância e adolescência, querendo convencer a si mesmo de que, quando tinha aquelas idades, já era uma pessoa madura, consequente, refinada, perspicaz, mansa, obediente, culta e tudo o mais de bom que se possa imaginar. Fala sério. Se isso for verdade, então você de fato nunca foi criança e sua adolescência foi vivida em um colégio interno de freiras otomanas. Se não isso, só resta uma alternativa: está mentindo. Adulto mentiroso? Belo exemplo para as novas gerações, hein?
Veja a questão do cantor-mirim Justin Bieber, esse que vem ao Brasil em outubro e que deixa a molecada eletrizada de expectativa. Canso de escutar adultos malhando o menino, criticando o suposto mau gosto da gurizada e implicando com o cantor tachando-o de mero produto de mídia e marketing, desprovido de talento e de estofo artístico. Ora, pois, senão vejamos. Em primeiro lugar, a discussão relativa ao gosto musical de cada um não tem cabimento. Esperava-se o quê? Que a meninada fosse, aos 10, 12 anos de idade, fã incondicional de Beethoven, de Villa-Lobos, dos Beatles?
Aliás, falando em Beatles, só para recordar algumas coisinhas aos maladultos de plantão... Se hoje o grupo britânico é universalmente aceito como “clássico” do rock and roll, criador das mais belas canções pop que perduram em nossas mentes até a atualidade, é bom lembrar que, quando estouraram na mídia, no alvorecer da década de 60 do século passado, eles se constituíam em um fenômeno eminentemente adolescente. Quem comprava os discos, quem ia aos shows, quem gritava histericamente os nomes de John, Paul, George e Ringo, eram menininhas (e alguns meninos) de 12 a 15 anos, criando aquilo que entrou para a história como “beatlemania”. Adultos só passaram a prestar atenção na banda algum tempo depois, quando o som dos caras também começou a amadurecer. Hoje, porém, qualquer sessentão grisalho e barrigudo sacode o pezinho ao som de “Please, please me” e “I wanna hold your hand”, achando-se cidadão de bom gosto (eu incluso, apesar de apenas quarentão).
E tem mais. Deem graças a Deus (e aos marketeiros internacionais) por seus filhos, sobrinhos, netos, afilhados, priminhos pendurarem em seus quartos pôsteres de Justin Bieber, que não passa de fase passageira e se constitui, em última instância, em entretenimento sadio. E rezem para que, quando se tornarem adultos, não troquem as imagens dele enquanto ídolo por cartazes de Fernandinho Beira-Mar ou de políticos como aqueles que dizem estarem se lixando para a opinião pública, só para citar algumas podridões que infestam a sociedade.
A que ponto de maturidade cheguei... defendendo Justin Bieber... Realmente, acho que não tive infância...
(Crônica publicada no jornal Informante, de Farroupilha, em 16 de setembro de 2011)

Um comentário:

Juliana disse...

Por essa eu confesso que não esperava, hein??
Mesmo eu, na condição de ex-"Menudete" (lá se vão anos), não defendo o tal Justin... hehehe!!