Como é a primeira vez que os atentados terroristas ao World Trade Center completam dez anos (e seguramente será a única), julguei cabível seguir com algumas reflexões a que dei início na semana passada, quando recordava o clima sombrio de expectativa apocalíptica que se apoderou de boa parte do mundo nos dias subsequentes ao fato e que acabaram marcando a psiquê coletiva deste início de novo século. Como eu era editor de Mundo no Pioneiro à época do 11 de setembro de 2001 e coordenei a cobertura feita pelo jornal, guardei, naturalmente, a título de recordação, exemplares das primeiras edições especiais cobrindo os fatos.
Hoje, passado esse tempo, aquelas páginas falam muito sobre como o mundo mudou em apenas uma década. A edição do dia 12 de setembro trazia, em 14 páginas, os fatos ainda em boa parte desconexos que atordoavam o planeta e sabíamos que entravam para a história da humanidade. Já a edição de 13 de setembro, mancheteada como “O dia seguinte”, trazia os rescaldos iniciais dos atentados e começava a apontar suspeitos e possíveis reações de retaliação por parte dos norte-americanos, aprofundando a sensação de catástrofe iminente que tomava o mundo.
Mas o que me chamou a atenção, folheando essa última edição em específico, foi o anúncio da Lojas Arno publicado na página 5 do jornal, exibindo os preços imperdíveis dos artigos mais procurados na época. Entre eles, me detive em uma máquina de escrever elétrica Olivetti Práxis, com memória de 7 mil caracteres e inserção automática de papel. Ainda vendia-se máquinas de escrever em 2001! Quanta coisa mudou em dez anos: as Torres Gêmeas não existem mais; a Lojas Arno foi vendida e máquinas de escrever só despertam o interesse de arqueólogos da tecnologia.
Dia desses viajei ao exterior. Na ida, tive de tirar até o cinto das calças e segurá-la com as mãos para ser aprovado pelo detector de metais no aeroporto. Na volta, tive de deixar de presente na alfândega um vidrinho de licor que trazia de lembrança e esqueci na bagagem de mão. Desde 11 de setembro de 2001, até eu posso ser um terrorista. E isso que, até agora, só assassinei minhas antigas máquinas de escrever...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 16 de setembro de 2011)
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