O Planeta Livro - corpo celeste de localização indefinida, habitado por todos aqueles que vivem e respiram de alguma maneira a literatura – celebra neste ano de 2012 os aniversários de nascimento de duas grandes personalidades cujas obras auxiliaram a amplificar os caminhos e as possibilidades existentes nessa forma de expressão artística. Em fevereiro, boa parte do mundo ocidental estará relembrando os 200 anos de nascimento do escritor inglês Charles Dickens (7/2/1812 – 9/6/1870), um dos mais populares romancistas já surgidos em língua inglesa. Em agosto, os brasileiros comemorarão o primeiro centenário de nascimento de Jorge Amado (10/9/1912 – 6/9/2001), uma das maiores expressões de nossa literatura nacional, traduzido para diversas línguas.
Apesar das diferentes tradições literárias em que cada um deles se insere e da distância de um século que separa o nascimento de um e outro, ambos trazem em comum em suas obras a característica de aprofundarem mergulhos na alma da humanidade que os cercava em seus respectivos tempos e contextos. Ler Jorge Amado ou Charles Dickens é ser conduzido para dentro dos meandros da psique humana, passeio saboroso que nos auxilia a melhor compreendermos nós mesmos e as gentes que nos cercam. O catedrático norte-americano Harold Bloom considera Dickens um dos grandes gênios inventores de personagens literários de todos os tempos, ao lado de William Shakespeare e de Geoffrey Chaucer. Caso conhecesse melhor a literatura latino-americana, provavelmente reservaria um lugar de honra nessa categoria também a Jorge Amado.
A lista de clássicos produzidos por ambos os autores é extensa e a citação de alguns títulos sempre derivará das preferências pessoais de quem no momento as produz, incorrendo na injustiça inevitável de deixar de lado aqueles também ótimos livros que, por questão de espaço, não foram elencados. Sob a assinatura do autor inglês, obrigo-me a citar “Grandes Esperanças” (já classificado por alguns críticos como “um romance em que há de tudo”), “As Aventuras do Sr. Pickwick”, “Oliver Twist”, “David Copperfield”, “Casa Soturna” e “Um Conto de Duas Cidades”. Entre seus contos, destaco seu famoso “Um Conto de Natal”, cujo avarento e ranzinza personagem Ebenezer Scrooge inspiraria, mais tarde, Walt Disney a criar seu Tio Patinhas.
De Jorge Amado, a lista também é extensa, mas só para refrescar a memória podemos elencar “Gabriela, Cravo e Canela”, “Tieta do Agreste”, “Dona Flor e Seus Dois Maridos”, “Tenda dos Milagres”, “Teresa Batista Cansada de Guerra”, “Tocaia Grande”, “Mar Morto”, “Capitães da Areia” e a genial e pouco lembrada novela “A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água”. Entre outros, naturalmente.
Centenários e bicentenários, como qualquer data comemorativa de nascimento ou morte de grandes artistas, além da justa homenagem, possuem o fundamental mérito de lançarem luz novamente sobre as personalidades e – principalmente – as obras legadas por esses criadores à posteridade. Nada melhor então do que aproveitar 2012 para conhecer ou mesmo revisitar os escritos de Charles Dickens e Jorge Amado. Ter seus livros em mãos e lê-los é, seguramente, a melhor forma como eles gostariam de ser homenageados e lembrados.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro" da revista Acontece Sul, edição de fevereiro de 2012)
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