sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

A nova face dos heróis

(Vem cá, a identidade dessa galera de colant colorida não deveria ser secreta???)


Passei boa parte de minha infância adquirindo e lendo gibis de super-heróis. Homem-Aranha, Os Vingadores e X-Men figuravam entre minha galeria de preferidos, e eu descarregava toda a minha mesada na aquisição das revistinhas para acompanhar as sagas. Os enredos seguiam a estrutura de novelas, especialmente nos aspectos relativos à vida dos personagens em suas identidades secretas, com seus amores, problemas, profissões (o fracote e quatro-olhos Peter Parker, fotógrafo do jornal Clarim Diário, era meu predileto).
Isso era nos anos 70, e o cinema ainda não dispunha dos recursos tecnológicos que agora a fantástica indústria dos efeitos especiais disponibiliza, permitindo, enfim, levar às telas com impressionante realismo tudo aquilo que as imaginações desvairadas de autores como Stan Lee, Bob Kane e outros concebiam para seus heróis impressos em papel. Cresci, mudei meus interesses literários e pouco hoje me seduzem as fantásticas versões cinematográficas de meus antigos heróis de infância, apesar de admitir ficar embasbacado com os efeitos especiais.
Uma coisa, no entanto, me incomoda nessa fase atual da transmigração do universo dos heróis superpoderosos trajando roupas colantes para as telas de cinema. É o descaso para com as máscaras dos personagens. Vejo os cartazes promocionais dos filmes e estão lá Homem-Aranha, Capitão América, Homem-de-Ferro, trajados com seus uniformes tradicionais, porém, sem as máscaras que por décadas os caracterizaram, expondo as faces dos atores que os interpretam. Por que isso?
Primeiro, porque certamente os astros hollywoodianos exigem tópicos contratuais que garantam capitalizar para suas imagens a fama obtida com o sucesso dos filmes. Segundo, porque me parece que algo mudou no conceito moderno de combate ao crime. Décadas atrás, os super-heróis, empenhados em combater o mal, faziam-no por puro diletantismo, preservando para si próprios suas identidades secretas. Nos dias de hoje, fazer o bem e combater o mal é tão raro que algumas pessoas que se dedicam a isso fazem questão de serem reconhecidas por tal, e exigem os louros para abrilhantar seus currículos. Fazer o bem, agora, virou marketing. A começar pelos super-heróis.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 17 de fevereiro de 2012)

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