Vamos chamá-lo de Rafael. É um moço de coragem, esse Rafael. Devia estar planejando o ato há dias, desde que descobriu a data de aniversário da colega, bela, alta e loirinha, a quem chamaremos de Mariana. A julgar pela mochila que Rafael portava às costas, e pelo conjunto de abrigo e tênis com que Mariana atravessava o portão do edifício e saía para a calçada, podemos supor que ambos deviam ter cerca de 16 anos de idade, estudantes do ensino médio.
Rafael interceptou Mariana a dois passos da fachada do prédio onde ela mora e chegou sorridente, a vermelhidão estampada nas faces quase se sobressaindo ao sorriso tímido e ao mesmo tempo ousado com que tentava esconder a apreensão. Sem dar tempo ao arrependimento, parabenizou-a pelo aniversário, tascou dois beijinhos nas faces dela, que também ruborizavam, e sacou das costas, como um pistoleiro do amor, o vaso com flores que acabara de adquirir na floricultura da esquina.
“Mas, Rafael!!! Que lindooo!! Não precisaaaava!, derreteu-se Mariana, desarmada.
Segui adiante rumo a meu automóvel estacionado na Avenida Julio de Castilhos, no bairro Lurdes, e não acompanhei o desfecho da cena flagrada pouco após o meio-dia, numa ensolarada quarta-feira de abril. Se surgia ali uma bela história de amor, não tenho como saber, afinal, mulheres são tão fascinantes quanto indecifráveis, e se Mariana estiver interessada mesmo é em Marcelo (que nem lembra do aniversário dela, por sinal), azar do Rafael, que, apesar de “querido, sensível e fofo”, vai acabar é sobrando mesmo.
Mas o grande mérito de Rafael, sem que ele o saiba, é provar que, nesses dias de redes sociais e relacionamentos virtuais, ainda há espaço para agir como gente de verdade, dando a cara ao vivo a bater e protagonizando um ato humano na vida real. Mais fácil teria sido enviar um cartão virtual pela internet, mas nada substitui a imagem da surpresa de Mariana, e a adrenalina que ambos sentiram naquele momento lhes vai ficar gravada na memória para sempre.
Já minha esposa, que presenciou a cena, também admirou o romantismo todo, mas não deixou de observar que as flores eram “tinhosas” (ah, mulheres...).
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 13 de abril de 2012)
2 comentários:
Baita texto, Marcos! LEgal mesmo!
Eu inventei de opinar e vou colar o mesmo que comentei ao postar o link do texto no Facebook.
Pobre Rafael ; tá f***. Depois do Marcelo, Mariana ainda vai tentar outros até, quissá, reconhecer ou relembrar do Rafael.
Depois nós insistimos pulando de galho em galho e somo os cafajestes.
"(ah, mulheres...)" hahaha
Beeem isso, Cataclism.. mas beeeem isso mesmo!!!!!
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