Fui alçado à categoria oficial de tio na última segunda-feira, dia 14,
com a chegada de João Vitor, primogênito da irmã de minha esposa. A julgar pelo
ritmo acelerado de desenvolvimento das crianças neste século 21, creio que não
demorará mais do que alguns meses para que João Vitor esteja me chamando de
tio. Será o máximo, especialmente porque ele se transformará na primeira pessoa
do mundo que atribuirá a mim tal alcunha sem que nela esteja implícita uma
metáfora para “e aí, seu velhinho?”, que é como a coisa me soa quando crianças
e jovens se referem assim a mim pelas quebradas da existência desde que as cãs
passaram a adornar o cimo de minhas orelhas há alguns pares de anos.
João Vitor, bem como seus companheiros de viagem Júlia, Théo e Alice, que
desembarcaram na maternidade do Hospital Saúde vindos no mesmo voo de cegonha
naquela manhã, já nasce plugado na internet. Com pouco mais de 24 horas de
vida, já estava com sua foto (junto aos pais orgulhosos, felizes e acabados)
postada no blog da maternidade e recebia as primeiras mensagens de boas-vindas
com 140 caracteres via e-mail, de parentes e amigos cujas existências ele
sequer desconfia. Um twitteiro nato, esse meu sobrinho. Nem sabe falar e já há
coisas que terei de pedir para que ele me ensine, uma vez que o velho tio aqui
demorou mais de 30 anos para receber e despachar seus primeiros e-mails.
Quando tiver a minha idade e assumir a sua vez no revezamento do
encantar-se com a chegada das novas gerações na família, e se eu ainda estiver
ocupando o lugar que me cabe ao sol, João Vitor contará com um tio ancião de 90
anos de idade. Não sei se nesse futuro distante (2057) ainda estaremos
navegando em internet da maneira como hoje concebemos essa forma de
comunicação, mas tenho certeza de que o maravilhamento com o inexplicável
milagre da vida seguirá inabalado. Nem os meteorologistas são capazes de prever
com exatidão se o João Vitor adulto viverá em uma sociedade que ainda manipulará
livros físicos e se o sertanejo universitário ainda emplacará sucessos no rádio
(“rádio, tio?”). O certo é que, desde que o mundo é mundo, existem coisas que
não se reduzem e nem se explicam em 140 caracteres, e a mágica da geração da
vida é uma delas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 18 de maio de 2012)
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