sexta-feira, 11 de maio de 2012

Me dá um dinheiro aí


Informações publicadas no jornal Pioneiro na última quarta-feira, a respeito do descompasso abissal existente entre as visões de consumidores e lojistas caxienses quanto ao fator que mais importa para efetuar uma compra/venda, me deixaram pasmo. Uma pesquisa realizada pela Câmara de Dirigentes Lojistas de Caxias do Sul (CDL) junto a consumidores e lojistas detectou uma dessintonia tão assustadora quanto reveladora a pautar as relações entre clientes e comerciantes na cidade. O quesito “bom atendimento” foi apontado como fundamental por 49,4% dos clientes ouvidos pela pesquisa. Mas apenas 10,7% dos estabelecimentos consultados indicam esse item como importante para o incremento das vendas.
Taí então. Tá tudo explicado. Esse é o pensamento vigente entre a acachapante maioria dos donos de lojas existentes em Caxias do Sul. E se o dono julga que atender bem o cliente é algo desimportante para garantir suas vendas e seus adorados lucros, por que diabos haveriam seus funcionários de pensar diferente? Para que gastar saliva e energia dando “bom dia” e dizendo “obrigado” com um sorriso nos lábios na hora do pagamento, no caixa? Para que sair andando de lá do fundo da loja e receber o cliente que entra e fica zanzando perdido entre as prateleiras? Para que tanto esforço, se o que conta mesmo, na visão subdesenvolvida e autofágica do setor, o que importa é a beleza das vitrines (como indica a pesquisa) aliada à qualidade dos produtos e à facilidade nas formas de pagamento?
Agora está claro. É a pesquisa quem revela: cliente, para a maioria dos nossos lojistas, é coisa. É objeto utilitário. Serve para entrar na loja feito caçamba e despejar dinheiro no caixa. E que saia rápido, desocupe o espaço, para que entre outra caçamba. Assustador e esclarecedor. Agora sabemos com quem estamos lidando, fora as raras exceções.
Eu, de minha parte, enquanto consumidor, sou um fidelizador dessas exceções. Coloco no caderninho os estabelecimentos, as instituições e os fornecedores de serviços que me tratam mal e nunca mais volto (e ainda falo mal deles para todas as pessoas de minhas relações). Confesso que minha lista de fidelizações anda bem curta em Caxias do Sul, ultimamente.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de maio de 2012)

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