Existem lugares mágicos que surgem em momentos diferenciados da vida,
ampliando o conceito de mistério, despertando a curiosidade, instigando a
imaginação. Mistério, curiosidade e imaginação são elementos fundamentais para
o exercício da criatividade, ferramenta que sempre se revelará útil na
resolução de problemas e na geração de alternativas nas encruzilhadas do
caminho de cada um. Esses lugares podem de fato existir e sonhamos em
visitá-los, ou mesmo podem apenas habitar espaços no mundo da fantasia, mas
sempre estarão lá, emitindo um irresistível chamado aos ouvidos de nossas almas.
Nos cursos de meditação que eram febre nos anos 1980, aprendíamos a criar
um “refúgio mental”, um lugar aprazível para onde nos transportávamos mentalmente
quando nos púnhamos a fazer sessões de relaxamento. O meu reportava à fazenda
que meus pais e avós possuíam em sociedade no interior de São Borja, com grama,
árvores, barulhinho de água corrente em riacho límpido, algazarra de caturritas,
cigarras e grilos, uma rede e uma laranja-do-céu. Por meio da leitura de gibis
e livros, almejei passear por lugares fantasiosos como Patópolis, o planeta
Krypton, Gotham City, o sítio da avó do Pedrinho, o país maravilhoso onde Alice
caiu, a região da Mancha palmilhada por Quijano, o império de Kublai Khan
vasculhado pelo Marco, o apodrecido Reino da Dinamarca que oprimia o filho da
rainha Gertrudes, os mares distantes singrados pelo Pequod atrás do alvo
cachalote, a Liliput dos pequeninos, a ilha de Sexta-Feira, a Pasárgada do
poeta, a Rua dos Douradores, a Tapariu do cronista caxiense etc.
Hoje, o pesar da saudade me faz desejar refazer visitas que se tornam
impossíveis devido às ações protagonizadas pela passagem do tempo, como a já
citada fazenda são-borjense (o “Rincão da Ferradura”), o pátio sombreado pela
timbaúva no lar de minha infância na Rua dos Viajantes, os arbustos que
escondiam ninhos de Páscoa na casa enxaimel de minha avó, a horta repleta de
moranguinhos sem agrotóxicos na casa da outra avó. Sorte nossa, a dos seres
humanos, de possuirmos vastos hectares no interior de nossas mentes para
abrigar essas paragens sem fim, panacéias a favor da sanidade do espírito.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 15 de junho de 2012)
2 comentários:
Grande texto, Marcos,
É uma pena que hoje as pessoas não se preocupem tanto em ter seus necessários refúgios, e não mais reservem momentos para a boa leitura.
Um abraço
Guilherme
Salve Guilherme!
Bom saber que segues me lendo!
E vamos nos refugiando sempre que dá, né.
Grande abraço e boas leituras.
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