Nesses nossos tempos de internet, em que se julga possível transmitir uma
ideia, uma filosofia, um conceito, um argumento, um ponto de vista, dentro de
um limite de apenas 140 caracteres (essa frase inicial, portanto, já estaria
fora), me parece ser necessário rever alguns fundamentos que até bem pouco
tempo atrás ainda regiam os atos da leitura e compreensão de textos um
pouquinho mais longos. E quando escrevo “um pouquinho mais longos” não estou
pedantemente a invocar mágicas montanhas de Thomas Mann nem demandas
proustianas atrás do tempo que se perdeu, e sim, tão-somente, pequenas
croniquinhas como as que exercito neste espaço e que, via de regra, exigem do
leitor não mais do que cinco minutos de sua atenção.
O primeiro problema, me parece, reside justamente aí: na falta de
atenção. O leitor de hoje lê desatenta e distraidamente. Acostumou-se à
linguagem pobre, direta, descomprometida, superficial e aviltante usada em
chats, twitters, msns, torpedos, feicibúkis etc e, quando se depara com um
texto tradicional, que lhe exige um mínimo de esforço de concentração para dele
sorver a essência, bate a preguiça mental e já se perde no meio da maionese. E
quando escrevo “leitor de hoje” não estou me referindo somente aos jovens que
já nascem conectados, mas, sim, à grande gama de leitores de todas as idades
que, por necessidade de conexão com o mundo informático moderno, também se
inserem no grupo e acabam sofrendo do mesmo problema.
Para compreender um texto de 141 caracteres ou mais, é preciso um mínimo
de atenção, de esforço, de entrega, de sensibilidade, de inteligência, de
silêncio e até de um pouco de humor, para extrair dele a sua verdadeira
essência, o seu sentido, bem como detectar o que se esconde por suas
entrelinhas. Sem isso, sinto muito. Nem sempre a comunicação se estabelecerá. O
autor, ao escrever, faz a sua parte. Mas para o interlocutor realmente se
habilitar a ostentar o título de leitor, ele terá de fazer a sua. E a parte do
leitor vai mais além e mais ao fundo do que simplesmente passar pelo texto os
olhos e afirmar que o leu. É preciso envolver nesse processo também a alma. E a
minha, por sinal, não cabe em 140 caracteres.
2 comentários:
Marcos,
Grande texto!
Penso que, para a maioria das pessoas que tem Twitter e similares, 140 caracteres são até demais pela pequenez de suas ideias.
Grande abraço
Guilherme
Grande Guilherme!
Tens toda a razao... para almas desérticas, nem um milhao mde caracteres bastam para que possam expressar alguma coisa...
Grande abraço!
Postar um comentário