sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Estamos rindo de quê?


Que a sociedade humana é uma entidade em constante processo de transformação, isso estamos empanturrados de saber. Detectar as mudanças exercidas no cotidiano a partir da evolução tecnológica, com o surgimento de parafernálias eletrônicas e novas invenções e descobertas em todas as áreas do conhecimento, é a parte fácil de perceber nessa marcha incessável. O mais complicado mesmo é conseguir distinguir as sutis alterações no comportamento das pessoas, que se dão de maneira paulatina, até se consolidarem como novas formas estabelecidas de ser, de pensar e de agir, originando novos conceitos e visões de mundo. Algumas se dão para melhor. Outras, preocupam.
Dentro do quesito das que me preocupam, reside uma transformação que, a meu ver, decorre diretamente do recrudescimento da postura competitiva, narcisista e individualista que parece começar a reger e caracterizar a nova humanidade deste século 21, ainda nascedouro. Trata-se da forma como nós estamos vendo o humor, principalmente o televisivo, nos dias atuais. Para mim, sentado no sofá da sala frente à televisão, a maioria dos novos programas humorísticos nacionais é fonte de preocupação e de horror, muito distantes daquilo que eu assistia com prazer (e rindo desbragadamente) nos anos 1970 e 1980.
Humor, para as novas gerações de humoristas (e, pior, para seu imenso público), é sinônimo de reduzir-se a imitar de forma achincalhada figuras famosas, colocar em saia justa ao vivo e de surpresa essas mesmas personalidades, tirar sarro da cara dos outros, agredir gratuita e irresponsavelmente quem não pode se defender no mesmo momento, enfileirar palavrões, gritar histericamente, reforçar preconceitos e estereótipos, abusar do mau gosto e do riso nervoso e fácil. Foi-se o tempo do humor ingênuo e do humor calcado em textos inteligentes e na atuação competente e criativa de roteiristas e humoristas de primeira linha.  Trocou-se o conceito de “rir junto” pela agressão imatura e prevalecida do “rir às custas de”.
Sinal preocupante (apesar de aparentemente insignificante) das transformações que estamos presenciando na nossa forma de conviver. Nossa passividade, claro, nos torna coniventes, o que é ainda mais preocupante.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 7 de dezembro de 2012)

2 comentários:

César disse...

É isso mesmo Marcos. Não se faz mais humor como antigamente.Os atuais comediantes com raras excessões são verdadeiros imbecis. Humoristas verdadeiros como Charles Charles Chaplin, Monty Phython ficaram relegados ao passado. No Brasil então,nem se fala. Há muito tempo não assistimos a bons programas humor. Está para surgir novos humoristas como Chico Anysio, Ronald Golias e muitos outros que deixaram saudades. Lamentavelmente o padrão de "humor" nos dias atuais é humilhar minorias, fazer piadas racistas e ainda achar que tem razão.

marcos fernando kirst disse...

Ola Cesar
Tambem sou apreciador do humor dessa gente que voce citou, especialmente Chaplin, Monty Python, Chico Anysio, e mais Harold Lloyd, Jerry Lewis, Agildo ribeiro e tantos outros, que privilegiavam o humor derivado do bom gosto e da inteligencia...
Grande abraço