domingo, 23 de dezembro de 2012

O centenário do mestre Braga




Os apaixonados pela boa literatura escrita em língua portuguesa produzida no Brasil têm uma boa razão para celebrar a data de 12 de janeiro de 2013. Ela marca o centenário de nascimento do maior cronista gerado em solo pátrio, um dos grandes mestres desse gênero literário que, aos poucos, em função dos esforços de seus discípulos, começa a receber a importância literária que lhe é devida. Trata-se do capixaba Rubem Braga, nascido em 12 de janeiro de 1913 na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo, que legou às letras nacionais uma vasta obra composta quase que totalmente pela produção de crônicas publicadas nos diversos jornais com os quais colaborou, perenizadas sob a forma de antologias em livros que seguem encantando leitores e ensinando os escritores os segredos da produção dessas pequenas grandes obras-primas carregadas de sensibilidade, lirismo, literariedade e gênio.
Cachoeiro de Itapemirim é um município brasileiro que tem o orgulho de poder se ufanar por legar ao país duas celebridades em duas áreas de expressão artística nacionais: Rubem Braga na literatura e outro Braga, Roberto Carlos, na música (apesar de compartilharem sobrenome e cidade natal, não são parentes). Devia haver alguma coisa especial, mágica e inspiradora na água bebida pelas mães cachoeirenses ao longo da primeira metade do século passado para gerar gênios da criação como a dupla Rubem e Roberto. Boa sugestão de homenagem seria ler algumas crônicas do escritor tendo como trilha sonora de fundo algumas das mais belas canções compostas pelo cantor, que tal?
Rubem Braga começou cedo a se dedicar ao ofício da escrita diária, uma vez que, já aos 15 anos de idade, era repórter do jornal “Correio do Sul”, em Cachoeiro de Itapemirim. Aos 19 anos formava-se em Direito em Recife, mas jamais exerceu a profissão. Seu currículo como jornalista, atividade que praticou até a morte em 19 de dezembro de 1990, inclui passagens por jornais em São Paulo, Belo Horizonte, Recife, Porto Alegre e Rio de Janeiro (onde trabalhou na Rede Globo de Televisão como redator). Acompanhou, como correspondente de imprensa, a Revolução de 1930 e a Revolução Constitucionalista (1932), bem como foi correspondente de guerra nos anos de 1944 e 1945 acompanhando a atuação dos pracinhas da FEB nas batalhas na Itália durante a II Guerra Mundial. Seus relatos do front e do cotidiano no campo de batalha mesclam o tino típico do poder de observação do repórter com o lirismo poético narrativo que marca toda a produção literária do cronista.
Rubem Braga, devido à qualidade ímpar do seu estilo, praticamente lança as âncoras que vão definir o estilo literário da crônica no país, ao lado, claro, de outros grandes nomes como João do Rio, Sérgio Porto, Stanislaw Ponte Preta, Paulo Mendes Campos, Fernando Sabino, Millôr Fernandes e outros. Sua fórmula consistia em deitar um olhar romântico e lírico sobre os temas do cotidiano, expressando suas impressões no papel por meio de uma escrita desprovida de rebuscamento e de excessos. A estética da simplicidade é a tradução de seu gênio, como, aliás, o é na obra da maioria dos gênios. Seu legado pode ser saboreado nos livros que permanecem e também nas crônicas produzidas na atualidade por alguns de seus discípulos que beiram os pés de sua qualidade, como Luís Fernando Verissimo, Fabrício Carpinejar, Jimmy Rodrigues e alguns poucos outros.
(Texto publicado na revista Acontece Sul, na seção Planeta Livro, edição de dezembro de 2012)

2 comentários:

César disse...

Oi Marcos. Parabéns pelo blog.É muito bom poder reler suas belas crônicas. Desejo a você e sua família boas festas, muita paz e saúde.

Abração

César Augusto

marcos fernando kirst disse...

Ola Cesar... muito grato por visitares meu blog. Desejo tambem a voce e sua familia um otimo 2013!
Abs
Marcos K