terça-feira, 10 de setembro de 2013

Reflexão eclipsada

Existem dois tipos de finais de semana: aqueles em que você só descansa e aqueles nos quais você se cansa. Em sendo finais de semana, claro que, em essência, são sempre prazerosos, mas o último enquadrou-se, para mim, na segunda categoria, uma vez que foi composto por uma agenda intensa de atividades que incluíam duas longas viagens de automóvel pelas nossas selvagens estradas, pouco sono, uma festa de aniversário, o revisitar de parentes, almoços e jantares compartilhados e assim por diante.
Fui conseguir baixar a bola, relaxar e descansar mesmo somente a partir do entardecer de domingo, quando enfim pude calçar as chinelas, lançar-me ao sofá da sala, esticar as pernas para cima do pufe e começar a folhear os jornais sabatinos e dominicais. Lá pelas tantas deparei com uma notinha que me chamou a atenção. Dali a poucos minutos, por volta das 19h, seria possível visualizar no céu, na altura do poente, um raro fenômeno astronômico: a lua eclipsaria, durante alguns minutos, o planeta Vênus, oferecendo um espetáculo bonito e único caso a noite estivesse bela e clara.
Larguei o jornal, ejetei-me do sofá e dirigi-me à janela da sala para constatar se a noite estava bela e clara. Pois estava, e arrebanhei a família para descermos do prédio e irmos para a calçada a fim de observar o eclipse diferente. Dito e feito, lá estava a lua, no formato crescente, uma unha de luz rasgando o escuro do céu, sendo tocada de leve em uma das pontas pelo brilho arredondado e intenso de Vênus, como um diamante a reluzir na superfície de uma aliança.
Em silêncio, ficamos contemplando aquilo, cada um imerso em seus próprios pensamentos e divagando seus conceitos de poesia, quando alguém me perguntou quantos planetas existiam no nosso sistema solar, além daquele Vênus que ali observávamos a distâncias astronômicas e da Terra, na qual pisávamos. Falei então dos oito planetas e da tristeza de os astrônomos terem, poucos anos atrás, demitido Plutão, o último da fila, da lista oficial de planetas, reclassificando-o como um reles planeta-anão.

Terminei o domingo entristecido pela sina de Plutão, que, para mim, segue integrando minha listagem clássica dos planetas de nosso sistema. Afinal, Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano e Netuno já estavam acostumados com a vizinhança dele. A gente não deve se desfazer assim tão fácil de um amigo.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de setembro de 2013)

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