quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Tá, e a neve?


Encontrei parentes e amigos no final de semana passado em minha terra natal, Ijuí, distante 400 quilômetros de Caxias do Sul. A sensação do encontro eram as fotos e filminhos que fizemos aqui, pouco mais de duas semanas atrás, quando a Serra foi brindada com uma das mais significativas nevadas de sua história recente.
Os telhados branquinhos, as calçadas congeladas, as copas das árvores nas ruas parecendo um desfile de pinheiros de natal que só se vê em filmes europeus e norte-americanos. As pessoas encasacadas, enluvadas, entoucadas e enrodilhadas em cachecóis a construir bonecos de neve na frente de suas casas e a brincar no alvo presente da natureza, esquecendo o frio que nos encarangava as almas.
Pois é, isso tudo há tão pouco tempo, e já aparentemente tão distante em nossas memórias, especialmente nesses primeiros dias de setembro que agora nos empurram para o extremo oposto e nos fazem pensar em camelos cruzando o deserto do Saara debaixo de um sol esturricante. Olho para fora da janela e vejo um céu límpido, azul, pontilhado de raras nuvens. O termômetro da sala bate na casa dos 24 graus centígrados (positivos, né), e parece desconfortável ao lado da grossa jaqueta que ainda pende esquecida no encosto da poltrona, pronta para ser vestida a qualquer momento a fim de enfrentar o frio, a chuva, o vento, o inverno, que até ontem ainda nos fazia reclamar e escrever crônicas evocando a visita do sol. Eis ele aí, pois, a pedidos.
Saltamos de um frio de fazer gemer urso polar em uma semana para esses calores de derreter dromedário poucos dias depois, sem que haja tempo para uma transição paulatina que nos permita irmos saindo dumas e entrado noutras com mais vagar. Até o clima parece ter decidido entrar em sintonia com esses tempos modernos criados pela sociedade, nos quais a correria, a transição ultrarrápida, a impermanência das coisas se transforma em regra geral. Neve de madrugada, eclipse de lua com Vênus de noite, calores desertificantes logo ali adiante, chuva e mais chuva daqui a pouco... Todas as opções de clima, temperatura e pressão disponíveis no menu, a fim de satisfazer a todos os gostos. Até a meteorologia parece estar ingressando na era da customização de serviços.

Depois estranham quando uns tomam chimarrão em trajes de praia em plena neve. Por pouco, não fui um deles...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 11 de setembro de 2013)

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