Vinte e três de maio, Dia
Mundial da Tartaruga. Você sabia disso, atilado leitor, perspicaz leitora?
Também não? Pois é, nem mesmo sabia-o eu, este esforçado mundano cronista que
vos digita, mas sempre acabo descobrindo essas coisas, sei lá, é como se um ímã
me conduzisse a temas dessa natureza. Mas, enfim, hoje é o Dia Mundial da
Tartaruga, evento promovido desde 2000 pela American Tortoise Rescue, entidade
ambientalista internacional preocupada com a preservação desses quelônios. Trata-se,
portanto, da décima-sétima edição do evento e só agora ficamos sabendo. Andam
devagar as coisas, em se tratando de tartarugas, haha! Desculpem.
Mas, então, o que falar a
respeito das tartarugas, neste dia dedicado a elas? É preciso discorrer sobre
alguma coisa, temos uma crônica a cumprir. E, mesmo devagar, se vai ao longe.
Haha, de novo. Isso era um joguinho de tabuleiro nos tempos da infância, não
era? Falava-se “vamos jogar devagarsevaiaolonge”, assim, tudo junto,
substantivado. Mas temos de focar nas tartarugas e, falando em infância,
recordo dos pequenos cágados e jabutis que na época ainda era permitido
adquirir de vendedores de rua e levar para casa, a título de bichinhos de
estimação. Tive muitos; alimentava-os com fiapos de carne e nacos de frutas e
ficava horas observando-os a fazerem nada. Eles e eu, tartarugando.
Disso, porém, há pouco a
resgatar e oferecer ao leitor. Melhor evocar uma leitura envolvendo filosofia e
lógica, para justificar, frente ao leitor, minha ocupação deste espaço. Em seu
livro de ensaios “Discussão”, o escritor argentino Jorge Luis Borges se debruça
sobre as nuances de um dos mais famosos Paradoxos de Zenon de Eléia, um filósofo
pré-socrático. Zenon usa essa demonstração teórica na tentativa de provar que o
movimento não existe, trata-se de uma ilusão. No paradoxo, ele imagina uma
corrida entre o veloz Aquiles (personagem mitológico) e uma morosa tartaruga.
Como a tartaruga é sabidamente mais lenta, ela sai com dez metros de vantagem.
É dada a largada. Aquiles corre os dez metros, enquanto a tartaruga corre um
metro. Aquiles vence esse metro, mas a tartaruga corre um decímetro. E assim,
até o infinito, Aquiles jamais ultrapassará a tartaruga.
Ao menos, não aos olhos da
lógica pura e simples. Mas nem sempre a lógica nos conduz à descoberta da
verdade, é o que nos demonstra a tartaruga. Há de haver também lugar para o bom
senso. E, pela lógica, a julgar pelo início do texto, tampouco o mundano
cronista conseguiria conduzir esta crônica de hoje a bom termo. Por que esse “haha”,
madame??
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 23 de maio de 2016)
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