Tive o privilégio de vivenciar uma experiência
transformadora na tarde da última terça-feira, quando fui convidado pela segunda
vez (já havia comparecido alguns meses atrás no turno da manhã) a conversar com
os alunos e professoras da Escola Municipal de Ensino Fundamental Rosário de
São Francisco, no Desvio Rizzo, aqui em Caxias do Sul. No início do ano a
escola decidiu adotar meu livro “Insetolândia: Uma Viagem ao Redor do Quintal”,
e a obra foi amplamente lida, debatida, discutida e trabalhada em sala de aula
nas diversas turmas, em todas as séries. O ápice de toda essa atividade seria o
encontro com o autor, em carne, osso e antenas, e lá fui eu.
Fui e voltei para casa (nas duas visitas) abastecido de
carinho, presentes, vivências, trocas, satisfação e, especialmente, sugestões
de temas para novos livros. Sim, porque os alunos da Escola Municipal Rosário
de São Francisco não se restringiram a esbanjar criatividade e talento na
confecção de poesias, contos, releituras da obra lida, apresentações teatrais,
esquetes, músicas, jogos, documentários, experiências científicas (aprendi com
alunas de nove anos o que são artrópodes, por exemplo), charadas, pinturas,
dobraduras, colagens, entrevistas (fui submetido até a um “talk show”),
trabalhos manuais etc. Eles foram além e ali, na presença do autor (“olha,
olha, é o autor!”), ao longo dos diversos bate-papos realizados, incentivaram o
escriba a dar sequência à sua carreira, municiando-o com sugestões de temas
para os novos livros.
Que tal um livro contando a vida das bactérias? Foi a
primeira sugestão, afinal, se eu havia escrito um sobre insetos, tendo iniciado
anos antes com outro sobre as aventuras de um gato, por que não seguir a escala
redutiva e enfocar agora as bactérias? Anotado! A outra sugestão, advinda de
uma das dezenas de dedinhos levantados esperando para fazer pergunta, consiste
em escrever uma obra sobre a origem dos dinossauros. A proposta se concretizou
depois de eu responder acertadamente à pergunta de outro menino, desejoso de
conferir se eu sabia como os dinossauros haviam desaparecido da Terra. Arrisquei
uma resposta, o menino escutou-a atento, mantendo o dedinho erguido até o final
de minha fala. Foi um meteoro que se chocou contra a Terra. Ok, eu sabia.
Estava apto, então, a receber a sugestão para escrever sobre dinossauros. Eles
confiam em minha capacidade. Talvez, um dia, eu o faça. Nada melhor para um escritor
do que ser acolhido por dezenas de leitores atentos e reflexivos,
independentemente da idade. Sou mesmo um sujeito de sorte.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 2 de setembro de 2016)
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