O salmão, você faz assim: primeiro, compra o salmão em
alguma peixaria ou no hipermercado mais perto de casa, porque você não vai se
botar a pescar salmão e, amigo, cá entre nós: salmão não se pesca, salmão se
compra já pescado, ok? Você conhece alguém que já tenha pescado um salmão na
vida? Não, né! Traíra, baiacu, dourado, anjo, tilápia, isso sim, pesca-se. Mas
salmão, não. Salmão se compra. É mais fácil achar alguém que ganhou na mega-sena
e não seja laranja de estelionatário do que encontrar pessoa que tenha pescado
um salmão. Salmão não entra nem mesmo em mentira de pescador. Hein? Baiacu? Eu
não falei baiacu. Falei? É, falei, sim. Mas não sei se baiacu é comestível.
Também, não vem ao caso, foquemos no salmão, que é o protagonista desta
gastrocrônica.
Então, ao princípio: primeiro, consiga um salmão. O melhor
é obtê-lo em postas. Posta é um jeito masterchefo de dizer “pedaço”. Posta é
pedaço. Preveja no máximo duas postas por pessoa, não mais do que isso, afinal,
ninguém vai querer se empanturrar de salmão, nunca vi disso. Uma posta é um
pedaço do tamanho tipo assim de uma mão aberta, mas os dedos unidos. Abra a
mão. Isso! Uma posta essa sua mão. Legal! As peixarias vendem postas de salmão
em saquinhos congelados, é fácil solucionar essa parte. Isso ou, no
hipermercado, peça ao atendente para esquartejar a peça de salmão fresco que
está em exibição ali em cima da montanha de gelo. Diga “quero esse salmão em oito
postas” e receberá do atendente um olhar respeitoso. Ele verá em você alguém
que sabe o que está fazendo, alguém que não erra posta nenhuma.
Leve para casa as postas (se congeladas, descongele-as) e deixe-as
marinar em suco de limão por um par de horas. “Marinar” significa simplesmente
deixar o peixão ali, abanheirado no suquinho, na boa, durante um tempo. Depois,
escorra o líquido e tempere as postas com sal e pimenta-do-reino. Só. Sem
nhenhenhé. Daí, pegue uma frigideira, unte com óleo de oliva
extra-mega-hiper-virgem (quanto mais virgem, melhor, sempre) e ponha as postas
a fritar. Vire. Frite. Vire. Quando a casa estiver envolta em um forte cheiro
de salmão, é que já estamos nos finalmentes. Corte uma fina fatia de queijo
gorgonzola... Eu não tinha falado do gorgonzola? Sim, volte ao mercado, precisa
gorgonzola. Conseguiu? Então: corte tirinhas de gorgonzola e cubra cada posta de
salmão com uma tira. Deixe derreter. Pronto. Leve à mesa, abra o vinho, sirva e
receba os louros. Ou os abraços. Ou, se for o caso, os beijos, os beijos, os
beijos... Só depois não me venha com conversa de pescador...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de setembro de 2016)
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