quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Do salmão aos louros

O salmão, você faz assim: primeiro, compra o salmão em alguma peixaria ou no hipermercado mais perto de casa, porque você não vai se botar a pescar salmão e, amigo, cá entre nós: salmão não se pesca, salmão se compra já pescado, ok? Você conhece alguém que já tenha pescado um salmão na vida? Não, né! Traíra, baiacu, dourado, anjo, tilápia, isso sim, pesca-se. Mas salmão, não. Salmão se compra. É mais fácil achar alguém que ganhou na mega-sena e não seja laranja de estelionatário do que encontrar pessoa que tenha pescado um salmão. Salmão não entra nem mesmo em mentira de pescador. Hein? Baiacu? Eu não falei baiacu. Falei? É, falei, sim. Mas não sei se baiacu é comestível. Também, não vem ao caso, foquemos no salmão, que é o protagonista desta gastrocrônica.
Então, ao princípio: primeiro, consiga um salmão. O melhor é obtê-lo em postas. Posta é um jeito masterchefo de dizer “pedaço”. Posta é pedaço. Preveja no máximo duas postas por pessoa, não mais do que isso, afinal, ninguém vai querer se empanturrar de salmão, nunca vi disso. Uma posta é um pedaço do tamanho tipo assim de uma mão aberta, mas os dedos unidos. Abra a mão. Isso! Uma posta essa sua mão. Legal! As peixarias vendem postas de salmão em saquinhos congelados, é fácil solucionar essa parte. Isso ou, no hipermercado, peça ao atendente para esquartejar a peça de salmão fresco que está em exibição ali em cima da montanha de gelo. Diga “quero esse salmão em oito postas” e receberá do atendente um olhar respeitoso. Ele verá em você alguém que sabe o que está fazendo, alguém que não erra posta nenhuma.

Leve para casa as postas (se congeladas, descongele-as) e deixe-as marinar em suco de limão por um par de horas. “Marinar” significa simplesmente deixar o peixão ali, abanheirado no suquinho, na boa, durante um tempo. Depois, escorra o líquido e tempere as postas com sal e pimenta-do-reino. Só. Sem nhenhenhé. Daí, pegue uma frigideira, unte com óleo de oliva extra-mega-hiper-virgem (quanto mais virgem, melhor, sempre) e ponha as postas a fritar. Vire. Frite. Vire. Quando a casa estiver envolta em um forte cheiro de salmão, é que já estamos nos finalmentes. Corte uma fina fatia de queijo gorgonzola... Eu não tinha falado do gorgonzola? Sim, volte ao mercado, precisa gorgonzola. Conseguiu? Então: corte tirinhas de gorgonzola e cubra cada posta de salmão com uma tira. Deixe derreter. Pronto. Leve à mesa, abra o vinho, sirva e receba os louros. Ou os abraços. Ou, se for o caso, os beijos, os beijos, os beijos... Só depois não me venha com conversa de pescador...
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de setembro de 2016)

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