Não sabemos o seu nome, a
imprensa não divulgou por óbvias razões, então, vamos chamá-lo aqui de “Yuri”,
para facilitar a identificação do personagem ao longo desta crônica de segunda.
“Yuri” é um garotinho russo de oito anos de idade, sonhador e determinado, que
ganhou as manchetes da imprensa internacional após ser encontrado pela polícia
a alguns quilômetros de sua casa, de onde havia partido com a missão de “viajar
pelo mundo”. “Yuri” deixou um bilhete escrito para os pais, externando o motivo
de seu sumiço, para não preocupá-los, lógico. Em uma mochila, reuniu livros (é
um garoto leitor); brinquedos, incluindo um avião; um cofrinho com suas
economias (pegou três táxis antes de ser encontrado a pé perto de uma ponte, às
margens do rio Volga, que ladeia sua cidade) e uma banana, caso sentisse fome
em algum momento da jornada. Além de determinado, o garoto provou ser previdente
e organizado.
A família de “Yuri”, logo se
constatou, não é disfuncional e seu lar não é desestruturado, muito pelo
contrário. O garoto apenas sentiu-se estimulado a empreender a aventura após
ler livros sobre viagens que lhe despertaram o desejo de conhecer o mundo,
ampliar seus horizontes pessoais, ver novas gentes, novas terras, vivenciar
experiências. “Yuri” pode também ter sido inconscientemente influenciado por um
dos significados existentes na tradução do nome da cidade em que nasceu e vive,
no sudoeste da Rússia: Astrakhan. Do mesmo porte de Caxias do Sul, com seu meio
milhão de habitantes, a cidade, com mais de 700 anos de existência, faz alusão
a um “rei peregrino”. Agora, abraça também, entre seus nativos, um menino com
sede de andanças.
Do outro lado do mundo, uma
criança brasileira, Bárbara Matos, de nove anos de idade, também virou notícia
ao decidir transformar sonho em realidade. Aluna do Colégio Diocesano de Crato,
no interior do Ceará, Bárbara sensibilizou-se com a situação do vendedor de
picolés que há 40 anos faz a alegria da garotada em frente ao colégio. Aos 68
anos de idade, Francisco Santana Filho, o “Seu Zezinho”, não sabe ler e nem
escrever. Seu sonho era conseguir assinar o próprio nome, e a menina, então,
decidiu ajudar, ministrando lições ao picolezeiro no intervalo de suas aulas,
que ocorrem na porta da escola, sob a supervisão de uma das professoras de
Bárbara, a aluna-alfabetizadora. O que o russo “Yuri” e a brasileira Bárbara
têm em comum, além da pouca idade, é a convicção de que o tamanho do mundo está
ao alcance da amplitude de nossos sonhos e, por meio deles, pode ser
transformado. Isso não é brincadeira!
(Crônica publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 22 de abril de 2019)
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