Se é verdade (e eu acho que é
verdade) que o futebol é uma forma de expressão metafórica da vida e suas
nuances, então hoje vamos falar de futebol, pois, afinal, também sou sofredor. Assisti,
do conforto fofo do sofá de minha sala, na gelada noite da quarta-feira da
semana passada, à transmissão televisiva da partida entre Grêmio e Atlético
Paranaense, válida pelas semifinais da Copa do Brasil, primeiro dos dois
confrontos previstos entre as duas equipes que disputam vaga na final da
competição. Tricolor de coração desde os tempos em que acompanhava pelas ondas
do rádio em Ijuí as atuações do veloz ponta-direita Flecha (que jogou no Grêmio
entre 1968 e 1971), vibrei com os dois gols marcados pelo meu time e que
encaminham o Grêmio a uma posição confortável no próximo confronto, em
Curitiba, daqui a alguns dias. Até aí, tudo zen.
Seguindo as jornadas esportivas
daquela noite em canais de tevê e, nos dias seguintes, nas rádios e nos jornais,
compartilhei a exaltação dos comentaristas às atuações da dupla de jogadores André
e Jean Pyerre, autores dos dois tentos decisivos da partida, mas senti falta de
algo. André, claro, marcou um belo gol de cabeça ainda no primeiro tempo, e Jean
Pyerre, no segundo, definiu o placar efetivando um magistral gol de cobrança de
falta, uma raridade no futebol apresentado hoje em dia nos gramados
brasileiros. Tudo muito justo, tudo muito correto, porém, faltou enaltecer um
fator crucial para o desfecho favorável desses dois lances: a participação
fundamental do jogador Éverton em ambos os momentos. Foi Éverton quem penetrou
na defesa paranaense com a bola e fez o cruzamento a André, permitindo a
cabeçada golística no primeiro tempo. E foi também Éverton quem, na segunda etapa,
sofreu a falta à frente da grande área adversária, que possibilitou a cobrança
matadora de Jean Pyerre para dentro das redes.
Sem a atuação vital de Éverton,
nenhuma dessas jogadas teria se transformado em gol, mas pouco (ou nada) se
falou sobre os méritos de sua performance decisiva na articulação desses dois
gols, reservando-se os refletores e as glórias para a dupla que finalizou. Assim
também muito se dá nos gramados da vida cotidiana, quando não raro os
coadjuvantes (fundamentais) das grandes conquistas veem seus esforços (vitais)
serem apagados e sufocados pelas loas reservadas somente aos finalizadores de
jogadas construídas em equipe. Zelando melhor pela autoria dos méritos de cada
um, garantiremos sempre o envolvimento de todo o time na busca das conquistas
cotidianas. Aí sim, é gol de placa.
(Crônica de Marcos Fernando Kirst publicada no jornal "Pioneiro", de Caxias do Sul, em 19 de agosto de 2019)
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