domingo, 21 de agosto de 2011

Elas, de novo

Pronto! Elas outra vez! As velhinhas do chá das tardes de sextas-feiras, que masoquistamente insistem em seguir lendo minhas crônicas, apesar de reiterarem o ódio que nutrem pelos meus escritos e por esse meu teimoso estilo de períodos longos que as deixa em suspenso e quase lhes rouba o fôlego ao final de cada interminável parágrafo nos quais as vírgulas pouco se fazem presentes, para desespero delas todas, e nas quais penso com certa compaixão ao depositar agora aqui algumas delas, as vírgulas, para que possam sentar um pouquinho e perceberem que não sou de todo tão mau assim, apesar de sempre reincidir no vício, como podem ver. Ponto.
Dessa vez, o que despertou a incontinência da ira delas (sempre que não se contêm elas se animam a me endereçar cartinha selada e postada em Correio, me desancando de alto a baixo) foi o tema de crônica assinada por mim aqui neste espaço, semanas atrás, a respeito do problema do vandalismo contra monumentos públicos. Odiaram elas a tal crônica, conforme sustentam na missiva, não devido ao teor do que defendi no texto, mas sim porque, conforme dizem, eu estaria abordando um tema que já fora discutido por outro cronista deste periódico, não muito tempo atrás, configurando-se portanto o fato em falta de inspiração de minha parte. E assinam, de próprios punhos, firmes e raivosos, as senhoras Fulana, Beltrana, Sicrana e Roldana, sem temor algum de se exporem frente à minha atacável figura.
O instinto de autodefesa logo me impeliu a desenterrar a máquina de escrever e iniciar a datilografia de uma resposta ao quarteto, seguindo pela linha de pensamento (e de preservação dos cronistas) que sustenta que “tudo já foi dito, mas não por todos”, justificando que os temas são restritos e o que vale é a criatividade de cada autor em abordá-los. Inspirei-me na argumentação e escrevia pensando “ahá, elas vão ver só”, quando me dei por conta de que eu jamais publicara uma crônica sobre tal assunto. Elas se enganaram de cronista. Só não se enganaram no ódio que direcionam a mim, que, a bem da verdade, não precisa de maiores justificativas para ser exercitado. Coisas da vida.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 19 de agosto de 2011)

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