Imponho-me algumas regras a serem seguidas nessa minha já longeva trajetória de leitor, a fim de manter aceso o interesse pela leitura, ampliar meus horizontes literários e aprofundar meus gostos. Na estante dos “livros a serem lidos”, divido-os em cinco grupos temáticos, aos quais vou recorrendo alternadamente, para atender assim a todo o espectro de leituras que julgo serem necessárias para que eu não me torne um leitor obtuso, preguiçoso, previsível.
As cinco divisões são as seguintes: clássicos da literatura universal (desde títulos consagrados pelas eras até trabalhos recentes que alcançaram projeção); obras de não-ficção (que versem sobre assuntos vários de meu interesse); literatura geral (tudo aquilo que por algum motivo me desperta a atenção); literatura brasileira (é preciso saber o que anda sendo – ou foi – produzido no país) e literatura local (é crucial conhecer os autores que produzem literatura em nossa própria aldeia). Isto posto, vou pirilampeando pelos volumes dispostos ordenadamente junto a seus respectivos grupos, puxando para perto aquele que o momento me induz a dar início à leitura.
Mas o que tenho percebido, no andar dos anos e das leituras, é que cada vez mais meu prazer em ler é recompensado pelos chamados clássicos da literatura universal. O termo “clássico” traz em si um ingrediente fundamental, que é a qualidade do texto, a profundidade da abordagem, a competência na caracterização dos personagens e das tramas. Como é bom ler o que é bom. Conferindo minhas anotações de leituras, detecto que, nos últimos 12 meses, tive a felicidade de debruçar minha alma sobre cinco dessas obras que me proporcionaram inesquecíveis momentos de fruição do melhor da arte da escrita, e que recomendo a todo o qualquer um que tenha o desejo de vivenciar a mesma experiência. Vamos a eles.
Começamos com “A Romana”, do italiano Alberto Moravia (1907-1990). Moravia, se não tivesse sido escritor, seria um psicólogo de primeira linha, tamanha a capacidade que possui de vasculhar a psiquê dos personagens que cria. É enternecedor e ao mesmo tempo angustiante acompanhar a vida da prostituta Adriana nessa obra que prima pelo estilo simples, direto e genial. Depois, passados alguns meses, fui para “A Boa Terra”, da autora norte-americana Pearl S. Buck (1892-1973), acompanhando a saga de vida do camponês chinês Wang Lung, em uma obra que marcou época por desvendar para o Ocidente os mistérios da cultura e das tradições chinesas.
Continuei a saga de leituras com “Orgulho e Preconceito”, da inglesa Jane Austen (1775-1817), precursora dos dramas de amor a partir de um texto refinadíssimo e também da construção convincente da personalidade de seus personagens. Na sequência, conferi a famosa novela “Morte em Veneza”, do alemão Thomas Mann (1875-1955) e, por fim, a também famosa novela do norte-americano Scott Fitzgerald (1896-1940), “O Grande Gatsby”, ambas lidando, em última instância, com as consequências da incapacidade de refrear impulsos hedonistas.
Além do prazer de saborear as mais belas páginas já escritas, o que esses autores nos presenteiam é com instrumentos para melhor conhecermos, por meio da leitura de suas tramas, as nuances da alma humana. E, por óbvio, a nós mesmos. Recomendo.
(Texto publicado na seção "Planeta Livro" da revista Acontece Sul, edição de agosto de 2011)
Um comentário:
"Como é bom ler o que é bom". É fato: quando o leitor já está instaurado, ou melhor, quando a leitura já foi instaurada, já está pertencente no ser interior, nas vontades e nos desejos mais altivos de alguém e quando a pessoa já consegue reconhecer o que aprecia ler e aprender no vasto campo do conhecimento, essa frase é pertinentíssima. Quando reconhcemos obras e autores que nos trazem o deleite da leitura, vem exatamente a frase à mente: "como é bom ler o que é bom"! Bem bacana a tua organização de leituras. Eu geralmente me perco (mas é uma perdição prá lá de instigante) nas minhas listas de livros lidos, almejados, jamais encontrados, nunca abandonados, sempre procurados e ainda aqueles que eu desconheço completamente (tanto autor quanto obra), mas que eu bem sei que se os conhecesse, me apaixonaria no ato da leitura. Porque... afinal, todo "bom" leitor quer mesmo "manter aceso o interesse pela leitura, ampliar horizontes literários e aprofundar gostos" para que o leitor "obtuso, preguiçoso e previsível" não tome conta da existência.
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