sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Na ponta do nariz

Não sei se isso acontece também com você, caro leitor, mas comigo é batata: sempre que estou empenhado na doméstica tarefa de lavar a louça, acomete-me uma incômoda e irritante coceira na ponta do nariz. Com todas as mãos envolvidas na tarefa, molhadas e ensaboadas com detergente, é impossível proceder ao ato automático de levar a ponta dos dedos ao contato com a ponta do nariz para eliminar a sensação de coceira que, ao andar do lavar de xícaras e colheres, só se intensifica.
O que fazer nesses casos?
Normalmente, o primeiro impulso é contorcer o pescoço fazendo a cabeça girar cerca de 45 graus e elevar um pouco um dos ombros a fim de tocar com parte do antebraço a ponta coçante do nariz, esfregando um contra o outro em movimentos frenéticos deflagrados pela ânsia de livrar-se daquela ânsia. É uma operação complicada e de efeitos normalmente desastrosos para quem não possui a destreza física de um contorcionista de circo, como eu, que a muito custo hoje em dia dobro os joelhos para resgatar do chão a fatia de pão que sempre cai com o lado da manteiga para baixo. Sem falar que não funciona. Coceira na ponta do nariz só se esvai com o toque certeiro da ponta dos dedos e ponto final. Não há ombro, cotovelo, palma de mão, joelho ou umbigo que exorcize a angustiante sensação.
É como se de repente, ao começar a esfregar com o bombril aquela panela em cujo fundo o arroz queimado do meio-dia grudou-se todo, uma etérea teiazinha de aranha flanasse no ar e fosse pousar tal qual um lençol fantasmagórico sobre a ponta do seu nariz, provocando a comichão que lhe envesga os olhos e lhe vai gerando uma sensação indescritível de impotência contra o incontrolável, a ponto de dar vontade de sair correndo. Uma vez saí correndo. Nem é bom lembrar aqui o que aconteceu e deixemos assim.
Já tentei usar isso como argumento para livrar-me da incumbência de lavar a louça, mas o olhar 37 que me lança minha esposa sempre que avento a possibilidade me provoca calafrios em todas as demais partes do corpo. Ainda prefiro a coceirinha, que se restringe à ponta do nariz.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 3 de fevereiro de 2012)

4 comentários:

Anônimo disse...

Cozinha em "pirexes" de vidro no micro-ondas. Fica tudo mais fácil de limpar.

:)
J.Cataclism

marcos fernando kirst disse...

Nunca tinha pensado nessa, Cataclism. Me dá logo o telefone de teu fornecedor de pirexes!!!!!

J.Cataclism disse...

Voilá!
Essa é ideal para quem tem um micro-ondas de 29 ou 31 Litros de capacidade. E um "pirex" grande.

-1 latinha de 200g de milho verde em conserva
-1 latinha de ervilha idem
-1 xícara de arroz (prefer~encia integral + orgânico)
-1 xícara de lentilha

Meter tudo num 'pirex", "Marinex" ou outros "exes" similares de vidro (para micro-ondas) e cobrir de água até a medida de um dedo acima do conteúdo.

Cobrir com alguma tampinha ou plástico destinado a micro-ondas (estudos indicam que NENHUM derivado de petróleo deveria ser levado ao micro-ondas ou à geladeira...), mas sem fechar tudo (sugiro deixar 1/4 de espaço livre para respiro).

Mandar ao micro em potência média-alta por cerca de 17 a 20 minutos, dependendo do modelo do aparelho. Ou então utilizar uma pré-configuração para cozimento de 2 porções de arroz.

Comer, aproveitar e lavar "TUDO" com uma simples esponjinha, rápido o suficiente para não coçar nariz ou qualquer outra área cossaca.
:)

J.Cataclism

marcos fernando kirst disse...

É simplesmente fantástico passarmos a oferecer receitas de fácil manejo e resultados surpreendentes aqui, nesse blog gastronômico-literário! Nao percam na semana que vem: costela assada e salada césar em marinex,por J. Cataclism!
Valeu, J!!!!!