Alguns leitores me escrevem afirmando serem aficionados pelas mensagens contidas nas entrelinhas das crônicas que aqui cometo neste espaço. Afirmam encontrar verdadeiras lições de vida e mesmo reflexões profundas no meio de textos em que aparentemente apenas discorro sobre a sensação desagradável de sentir cócegas no nariz quando lavo a louça ou quando falo sobre o prazer que tenho em encontrar conhecidos cruzando sobre uma faixa de segurança. Juram esses leitores que, nessas minhas crônicas, há muito mais entre uma linha e outra do que pensa nossa vã filosofia.
Apreciam mais eles, portanto, tudo aquilo que eu não escrevo e que julgam estar ali, visível somente para a leitura atenta praticada pelos iniciados, do que aquilo que efetivamente digito. Gostam mais do ghost writter que eu sou de mim mesmo, do que do eu-próprio que redige o que acaba sendo publicado aqui. Dia desses produzi uma aparentemente inocente crônica em que discorria bobamente sobre sacos de lixo esquecidos no porta-malas do meu carro e recebi e-mails de leitores me parabenizando pelo sutil recado que subliminarmente eu teria passado contra a extinção do mico-leão-dourado. Eu não sabia que existiam micos-leões-dourados, tampouco que estavam
Só espero que meus leitores não cheguem ao extremo da paranóia que atingiu um amigo meu, chamado Argentino, que certa vez ficou impressionadíssimo com aquelas teorias conspiratórias que pregam haver mensagens diabólicas em certas músicas, se escutadas de trás para diante. Convenceu-se Argentino de que o mesmo ocorria com os livros de Paulo Coelho, e botou-se a ler de trás para frente “O Alquimista” em busca de mensagens demoníacas, a fim de desmascarar as verdadeiras intenções daquele autor. Por favor, leitores, evitem ler minhas crônicas de trás para diante. Não lhes quero provocar pesadelos além dos já advindos da leitura normal dessas mal-digitadas linhas.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 10 de fevereiro de 2012)
6 comentários:
Marcos,
A esse respeito, cito a tua crônica de Natal, sobre os pinguins. Acreditei ver nas tais entrelinhas uma interessante reflexão sobre o aspecto mecânico e artificial da data. Se foi intencional ou não, é outra história.
Abraço!
Luciano
Oi Luciano!
De fato, nessa crônica em específico havia a intenção de chamar a atenção para o aspecto comercial e mecanicista que determinam o comportamento das pessoas em datas como o Natal. Há entrelinhas induzidas e entrelinhas inesperadas, que surgem a partir da leitura pessoal de cada um. Daí o interessante das artes, todas elas, inclusive a escrita.
Agora, reparando bem, mas beeeem reparado... acho que, pulando algumas linhas enquanto se lê de trás para frente e ao mesmo tempo praticando polichinelos, é possível ver, clara e indubitavelmente, a frase "beba coca-c..." no último parágrafo.
É, tenho certeza!
Há alguns anos, no "Topa Tudo por Dinheiro", do titio Sílvio Abravanel Santos, um cartaz com várias letras espaçadas que, lidas corretamente, acusavam: "Me beije e ganhe R$100,oo"...
:)
Acho que os polichinelos embaralham tua vista na hora da leitura... experimente fazê-lo apenas virando cambota....
Opa, tens razão!
Em verdade, é "Pepsi"!
Agradeço a dica.
Tente de novo... leia devagar, de trás para diante, plantando bananeira... é Baré-Cola....
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