Entrei em uma loja de R$ 1,99 à cata de um mata-moscas, afinal, sou
proprietário de um vaso com planta-carnívora que adquiri na Festa da Uva e meu
senso de responsabilidade paternal me impele a passar o dia perscrutando o
vácuo dos ambientes da casa à caça de presas voadoras que possam nutrir e
deleitar as 12 vegetais boquinhas dentadas permanentemente abertas que me miram
famintas lá do canto da cozinha, tal qual passarinhos no ninho aguardando a
chegada da mamãe-pássaro e seu suculento rancho de minhocas. Abordado à entrada
da loja pela atenciosa mocinha que desejava ajudar, fui logo pedindo:
- Tem mata-moscas?
Conduzindo-me pelos corredores de prateleiras repletas de badulaques, a
atendente ia na frente, perguntando se eu procurava um mata-moscas “tradicional”
ou “aquele moderno, à bateria”. O “tradicional” ao qual ela se referia, supus,
era o que eu estava buscando, ou seja, aquele moldado em peça única de plástico
bem bagaceiro que, após curto período de uso, fica nojento e deve ser
imediatamente substituído por outro. O “moderno” eu não conhecia e ela logo
tratou de me apresentar: trata-se de um objeto em formato de raquete de tênis,
movido a uma bateria recarregável instalada no cabo, que, em contato com o
inseto interceptado em pleno voo, dispara uma descarga elétrica que frita na
hora a vítima, produzindo um estralinho meio sádico. É traaaac e pronto: fritou-se
o insetinho, que cai grelhado no chão.
Fiquei estupefato com a invenção, mas repeli a oferta e saí de lá levando
na sacolinha o tradicional mata-moscas de plástico alaranjado, com o qual
caçarei os insetos que irão alimentar minha planta-carnívora. Achei a raquete
elétrica uma arma poderosa demais para ser usada contra adversário tão frágil
(como lançar uma bomba-atômica sobre uma redução jesuítica, por exemplo). Com o
mata-moscas de plástico, ao menos, concedo aos insetos a possibilidade de se
digladiarem comigo em condições mais equilibradas de combate, quando sairá
vencedor aquele que for mais ágil, esperto, habilidoso.
Afinal, é nesses singelos atos do cotidiano que mantemos acesa a frágil e
claudicante chama de nossa ética pessoal.
(Crônica publicada no jornal Pioneiro em 27 de abril de 2012)
5 comentários:
...e, no entanto, o senhor perdeu uma excelente oportunidade de oferecer às doze boquinhas vegetais uma refeição grelhada, sr. Marcos; quissá mais saudável.
Pobres plantas que vaõ continuar comendo sushi de mosca, e não churrasco.
Haha!
Mas tche.. minha planta carnivora é vegetariana... ela adora sushi de mosca!!!!
heheheheh bem, nesse caso, vá lá! Se ela continua bem-nutrida e ainda não reagiu igual àquele filme antigo com o Rick Moranis ("A Pequena Loja dos Horrores", se não me engano), então mereces os parabéns pelo empenho.
:-)
E eu ingenuamente pergunto: elas realmente comem moscas?
Comem, nao... deglutem... tipo, amassam e chupam o caldinho, na verdade.
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